Fixe o olho no centro de uma página. Sem desviar a vista, note que é possível enxergar parte do que estiver em volta da folha. Agora, observe se você consegue ler mais do que uma palavra de cada vez dentro da área escolhida. Provavelmente, a resposta será negativa. Mas a Escola Técnicas Americanas, de São Paulo, garante que somos capazes de captar até 12 vocábulos ao mesmo tempo. Essa performance é obtida por meio de um treinamento especial que permite ler as seis palavras que vêm antes e as seis que vêm depois do ponto selecionado. A explicação é do diretor da instituição, Francisco Durante. “Trata-se de uma fisioterapia ocular. Se conseguimos enxergar mais de uma palavra, também podemos ler mais do que uma”, diz. Durante afirma que na alfabetização aprendemos a ler letra por letra, depois palavra por palavra e paramos aí. “Estamos habituados a usar apenas uma parte de nossa capacidade visual.”

A técnica difere da já conhecida leitura dinâmica, que consiste em entender o texto sem ler todas as palavras (por meio de associação de vocábulos e dedução do sentido). Com o novo método, o aluno capta as palavras por inteiro. Ele usa exercícios específicos de atenção e mobilização ocular (os olhos ficam fixos num ponto e a folha de leitura é movimentada, por exemplo). De acordo com Durante, o método foi criado pela Nasa (agência espacial americana), em 1957. Ela também teria desenvolvido uma régua para auxiliar os treinos. O curso é orientado por pedagogos e dura seis meses. São dadas aulas semanais de uma hora para verificar se o aluno atingiu a meta de palavras por minuto, estabelecida por etapa. Os exercícios são feitos em casa três vezes ao dia, com duração de dez minutos cada. “No final do curso, os alunos estão lendo pelo menos duas mil palavras por minuto, com 100% de compreensão”, assegura Durante. Para se ter uma idéia do que isso representa, vale dizer que uma pessoa normal consegue captar entre 120 e 220 palavras por minuto. Durante sabe que o ceticismo é o que mais afasta as pessoas do curso, mas ele acrescenta que sua melhor propaganda são os alunos que toparam o desafio inicial e hoje espalham aos quatro ventos os truques da leitura rápida. A estudante Estefani Barbery, 14 anos, está nessa turma. Ela já atingiu o módulo nove e lê 960 palavras por minuto. “Quando entrei, lia 97. Agora, até as notas na escola melhoraram”, conta. Esse discurso é, no mínimo, sedutor para os colegas especialistas em nota vermelha. A mãe, Marlene Barbery, e o irmão de Estefani, Carlos Eduardo, também fazem o curso.

O sucesso da escola, aberta há dez meses, entretanto, não empolga médicos e especialistas em ensino. Eles desconfiam da eficácia do método. O neurologista Paulo Caramelli, do Hospital das Clínicas de São Paulo, desconhece trabalhos científicos que tratem de fisioterapia ocular. “Não há dúvidas de que é possível treinar as pessoas a ler rápido, mas nunca ouvi falar desse método”, afirma. Rogério Tuma, neurologista do Hospital Sírio Libanês, de São Paulo, acredita na capacidade de leitura rápida, mas garante que é praticamente impossível que ela aumente a compreensão do texto. O oftalmologista Ricardo Uras, da Universidade Federal de São Paulo, vai além no ceticismo: “Se a técnica é tão fantástica, por que não está nas universidades?”

Prazer – Mas quem faz o curso não se preocupa com esse tipo de argumento. O representante comercial Sílvio Luís Abad, 36 anos, está no nono módulo e lê 1.700 palavras por minuto. Ele reduziu pela metade o tempo de leitura do jornal diário. E revela que leu as 295 páginas do livro Estação Carandiru, de Drauzio Varella, em apenas uma hora. Para o professor Francisco Moura, autor de livros de redação e gramática, esse feito não traz vantagem. “Ler um livro aplicando uma técnica dessas é como devorar um prato de comida. A ingestão de calorias pode ser a mesma, mas, se você degustar o alimento vagarosamente, com certeza, terá muito mais prazer”, compara.