Dois anos depois de ter liderado uma compra hostil da Telecom Italia, seu polêmico presidente, o acionista majoritário Roberto Colaninno, pediu demissão dos cargos de presidente e membro do conselho da empresa. Ele foi substituído por Enrico Bondi, principal executivo da Montedison. A decisão, anunciada no final da semana passada, foi decorrência da compra da Telecom Italia por dois dos mais poderosos grupos industriais da Itália, a fabricante de pneus e cabos Pirelli SpA e a holding da família Benetton, Edizione Holding. A transação, pela qual as duas empresas pagarão cerca de sete bilhões de euros (US$ 6,1 bilhões), envolve a compra da participação da Bell S/A na Olivetti. A Bell é a holding controlada por Colaninno e um grupo de investidores que o apoiou na compra da Telecom Italia, em 1999, e que detinha 23% do grupo Olivetti, que por sua vez possui 55% da Telecom Italia. Uma nova companhia, com 60% da Pirelli e 40% da Benetton, será formada para ficar com os 23% da Bell. Segundo o presidente da Pirelli, Marco Tronchetti Provera, poderá haver uma fusão da Olivetti e a Telecom Italia, alternativa para reduzir a dívida de ambas, calculada em US$ 40 bilhões de euros.

A Telecom Italia é uma das gigantes da telefonia mundial, a quarta maior empresa de comunicações da Europa e uma das que têm maior presença no Brasil. Aqui, a Telecom Italia é sócia da Brasil Telecom que, em sociedade com o grupo Opportunity, opera linhas fixas no Sul e Centro-Oeste. A italiana também controla as operadoras de celular TIM e Maxitel, em Estados do Sul, Nordeste, Espírito Santo e Minas Gerais.

Segundo o The Wall Street Journal, Colaninno teve muita dificuldade para reorganizar a empresa telefônica e, nos últimos tempos, precisou lidar com a deterioração de sua base de apoio entre os credores que o ajudaram a assumir o controle acionário da empresa. Segundo o jornal, o peso da enorme dívida que a empresa teve de assumir para financiar a aquisição obrigou Colaninno a fazer várias tentativas de transformação nas operações financeiras que segurassem o fluxo de capital da Telecom Italia e reduzissem o montante devido, o que resultou em choques com acionistas minoritários. “Essa sucessão de fracassos empurrou para baixo as ações da Telecom Italia e da Olivetti, e acabou gerando uma série de dissidências entre os credores parceiros”, diz o WSJ. Nos últimos meses, a situação piorou mais ainda, devido a investigações da Justiça italiana de operações da empresa envolvendo Colaninno e alguns de seus parceiros.

O curto reinado de Colaninno na Telecom Italia também provocou muitos atritos com seus parceiros brasileiros, entre eles o grupo Opportunity, sócio na Brasil Telecom (BrT), operadora de telefonia no Sul e Centro-Oeste. A Telecom Italia tentou aumentar uma oferta à Telefonica pela CRT, de US$ 730 milhões para 850 milhões, ao assinar um contrato com a empresa espanhola sem ouvir o sócio brasileiro. O impasse só terminou em julho de 2000, com a intervenção da Anatel na CRT. Também houve conflitos na participação da BrT nos leilões das bandas D e E. O Opportunity acusou a Telecom Italia de tentar participar individualmente do negócio.