Fato político da semana, a entrevista em que a senadora Marta Suplicy (PT-SP) descasca seu partido, o presidente Rui Falcão, chamado por ela de “traidor”, o governo Dilma e o ministro Aloizio Mercadante, a quem considera um “inimigo”, deve ser vista pela lente do interesse pessoal, e não do ressentimento. Marta, que já foi apontada por uma pesquisa Datafolha como a melhor prefeita da história de São Paulo, quer a coroa de volta e sabe que o espaço no PT se fechou. Com a língua solta e afiada, ela poderia ser expulsa da legenda, sem que perdesse, na condição de vítima, o mandato de senadora por infidelidade partidária. Marta fez um cálculo político, enquanto seu principal adversário, o atual prefeito Fernando Haddad, se dedica a fazer política. Na mesma semana em que ela falou, ele agiu. Reforçou sua aliança com o PMDB, convidando Gabriel Chalita para a Secretaria de Educação, e também com o PSD, do ex-prefeito Gilberto Kassab, ao oferecer a SP Turis ao vereador Marco Aurélio Cunha.

Com isso, ele espera fortalecer uma frente de centro-esquerda para sua reeleição, tornando ainda mais espinhoso o caminho para um eventual retorno de Marta, que tem agora, como principais opções, o PR e o Solidariedade, do sindicalista Paulo Pereira da Silva. No campo oposto, dois nomes despontam como potenciais adversários de Marta e Haddad, que disputam votos entre o mesmo eleitorado. Um deles é o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, que ficou em segundo lugar na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes e terá como uma de suas bandeiras o combate à carga tributária – foi ele quem, no fim de 2013, conseguiu impedir o aumento das alíquotas do IPTU na capital paulista. Embora o convite a Chalita tenha sido uma cartada importante de Haddad, Skaf irá forçar, no PMDB, a discussão sobre candidatura própria. Outro nome que não pode ser desprezado é o de Celso Russomanno, deputado mais votado do Brasil, com 1,5 milhão de votos pelo PRB.

Com espaço cativo na televisão, onde se apresenta como “xerife do consumidor”, ele espera se beneficiar dos votos de uma nova classe média não alinhada ao PT – e as eleições de 2014 já evidenciaram o tamanho da rejeição ao petismo em São Paulo. Bom, mas e o PSDB? Sem nomes naturais fortes, capazes de saltar os muros de Higienópolis, o mais provável é que, em nome das aparências, lance candidato próprio, mas sem grande entusiasmo. Empenhado em costurar alianças para seu projeto presidencial de 2018, não será surpresa se o governador Geraldo Alckmin decidir apoiar Russomanno, ainda que informalmente.