O deputado José Carlos Gratz (PFL), presidente da Assembléia Legislativa do Espírito Santo, foi à tribuna, na quarta-feira 1º, a pretexto de se defender da acusação da testemunha Geraldo Ribeiro de Almeida, que, em depoimento à Polícia Federal, o apontou como mandante do assassinato de um sócio do Bingo Arpoador, no Rio de Janeiro. Dono de um império de jogatina e indiciado pela CPI do Narcotráfico, Gratz distribuiu agressões ao chefe da Procuradoria da República no Espírito Santo, Ronaldo Albo, ao prefeito de Vitória, Luiz Paulo Veloso Lucas, e a ISTOÉ. Inspirado em He-Man, personagem de desenho animado, abusou de baboseiras, como “sou invencível” e “sou mais forte que a fortaleza”. Mas o capo perdeu a força por causa da implosão de seu grupo político: um dia depois, três deputados estaduais se desligaram do PFL. Foi um racha pragmático. Com o aval de Gratz, eles fecharam um acordo com o vice-governador Celso Vasconcelos (PSDB). Aderiram à proposta de impeachment do governador José Ignácio, envolvido em um esquema de propina. Mas Gratz passou uma rasteira na própria turma e se acertou com o governador em troca da colocação de apadrinhados na Secretaria de Educação e nas presidências do Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo e da Loteria do Estado.

Fechada a barganha, Gratz mostrou serviço. Vetou a prorrogação dos trabalhos da CPI da Propina, o que fará com que a comissão encerre as apurações antes de receber o rastreamento dos cheques do caixa dois da campanha de José Ignácio em 1998. E escalou para a Comissão do Impeachment apenas deputados dispostos a salvar o governador. A sessão da Assembléia quase acaba em pancadaria e a aprovação da comissão foi adiada para a segunda-feira 6. Mesmo fazendo o jogo do governador, Gratz tem como plano B a conquista do governo, estendendo o impeachment ao vice-governador. “Aí a Assembléia elegeria o deputado Robson Neves”, diz a deputada Fática Couzi. Gratz e Neves dividem um escritório no Palácio do Café, em Vitória.

O cerco contra José Ignácio está se fechando. Seu cunhado, coordenador de campanha e ex-secretário de governo, Gentil Ruy Ferreira foi preso, a pedido do MP, na segunda-feira 30. Outro ex-caixa de campanha, Raimundo Benedito, está foragido. Com pena, a primeira-dama Maria Helena Ferreira, pivô das denúncias, usou um carro alugado pela Secretaria de Governo para visitar Gentil num quartel da PM.