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Dois meses depois de mais de seis milhões de alunos prestarem o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o ministro da Educação, Cid Gomes, divulgou, na quarta-feira 14, o balanço final da edição 2014 da prova – e os resultados são alarmantes. Chama a atenção o péssimo desempenho dos candidatos nas áreas mais fundamentais do conhecimento. Além da piora em matemática, a quantidade de inscritos que zeraram a redação explodiu. Exatamente 529.374 estudantes registraram a nota mínima na parte escrita do teste, quase o quíntuplo dos 106 mil do ano anterior. Na outra ponta, apenas 250 pessoas receberam a nota máxima (em 2013, foram 481). Os números revelam a baixa qualidade do ensino brasileiro, principalmente no nível médio, e apontam para a necessidade de investimentos e mudanças nas diretrizes da área.

Nesta edição, metade zerou a redação porque deixou a folha em branco. Outros 217 mil tiveram seus textos anulados porque fugiram ao tema proposto, publicidade infantil. No total, 8,5% dos candidatos tiraram a nota mínima na parte escrita da prova. Na média, os inscritos não fizeram nem metade dos mil pontos possíveis, uma piora de 9,7% em relação ao Enem de 2013. Professor da Faculdade de Educação da USP, Nilson José Machado afirma que os maus resultados que o Brasil normalmente alcança em avaliações do gênero revelam o estado “vergonhoso” do ensino básico. “Cada vez que é divulgado um exame como esse há uma chuva de interpretações e depois não se faz mais nada. A avaliação tem a ver com planejamento, mas não há projeto para o setor no País”, diz.

No Enem e em outros exames, preocupa a sangria em duas das áreas mais fundamentais do aprendizado: a redação e a matemática. Nesta última, a média em relação ao ano anterior desabou 7,3%. Melhoraram as áreas de humanas, ciências da natureza e linguagens. Ao todo, no entanto, o rendimento caiu de 504,3 para 499 pontos (-1%). O Enem, hoje, serve mais como método de entrada na universidade do que como ferramenta para mensurar a qualidade da educação nacional. Mesmo assim, espera-se que o rendimento dos alunos suba, ao invés de cair. Para melhorar o quadro nas salas de aula, Machado receita a valorização dos professores e a criação urgente de uma base curricular nacional. “É preciso oferecer uma carreira, com concursos atraentes para aumentar a competência técnica, como ocorre no Judiciário. E o currículo tem matérias demais. Perdeu-se a noção do que é fundamental”, afirma. 

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