André Sarmento

Robert Zoellick, secretário de Comércio Exterior dos EUA, que será o interlocutor em questões comerciais de chanceler brasileiro Celso Lafer na cúpula das Américas, marcada para abril no Canadá, teve um papel central nas negociações que levaram à formação do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), sob George Bush pai, e certamente pretende completar seu trabalho no governo de George Bush filho, estendendo o Nafta até a Terra do Fogo através da Associação de Livre Comércio das Américas (Alca) antes de 2005.

Não será fácil. No último dia 12, por exemplo, Lafer fechou um acordo com a Argentina, que se alinhou ao Brasil na briga contra a antecipação da vigência da Alca. O prazo previsto para o início da união tarifária dos 34 países das Américas é 2006, mas os Estados Unidos trabalham pelo adiantamento da data em pelo menos um ano e contavam com a Argentina como aliado até bem pouco tempo atrás. As dificuldades econômicas levaram o governo argentino a rever as datas e a recuar na disposição de apressar a abertura de mercados a produtos americanos.

Na próxima sexta-feira, Lafer estará com o presidente chileno Ricardo Lagos, para comunicar a posição, que, com a decisão argentina, fica consolidada entre os países do Mercosul. Oficialmente, o Chile desmente a intenção de apresentar qualquer proposta de antecipação nos cronogramas, mas, de acordo com fontes diplomáticas, se mantém alinhado com os americanos. “Mais de 40% da economia chilena é dedicada ao comércio exterior”, diz o secretário executivo da Câmara de Comércio Exterior (Camex), Roberto Gianetti. Haveria uma segunda razão. Apoiando a antecipação, o Chile acreditaria estar ajudando os Estados Unidos a conseguir o fast-track, ou seja, a licença do Congresso para negociar com autonomia acordos multilaterais.

AP
Costura de acordo com a Argentina e visita ao Chile

O Brasil não quer a antecipação porque precisa de tempo para adaptar alguns setores da economia à competição com os concorrentes americanos. E esse roteiro inclui tarefas complicadas como a aprovação da reforma tributária e a redução dos custos portuários. Os prazos prevêem negociações de acordos até o final de 2004, aprovação dos princípios da união aduaneira durante 2005 e sua implementação a partir de 2006. O Chile propõe a redução de um ano em todos esses prazos.

Falta acesso – A disputa brasileira com os Estados Unidos se deve à falta de reciprocidade. “É preciso que os americanos mostrem disposição de dar ao Brasil acesso a mercados até hoje fechados, como o siderúrgico”, diz o subsecretário de Assuntos Econômicos do Itamaraty, embaixador José Alfredo Graça Lima. Por isso, a posição brasileira é não falar de prazos sem se discutir, antes, o acesso aos mercados. Mas os diplomatas sabem que certamente o tema da antecipação surgirá na reunião de cúpula da Alca no Canadá. Por isso, Lafer tratou de se adiantar, alinhavando um consenso no Mercosul.

Leopoldo Silva
Não parece entender que o Brasil não é o México

A chefe de assessoria econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Sandra Rios, diz que a posição brasileira não é tão confortável. O país pode tentar adiar a união, mas não pode emperrá-la. “Se os EUA negociarem acordos bilaterais com outros países, excluindo o Brasil, o País perde mercados. Metade das exportações brasileiras é destinada às Américas”, explica a economista. “E é nesse mercado que o Brasil coloca os produtos de maior valor agregado”, completa. Sandra Rios identifica mais interesse do empresariado americano em tocar a união. “Eles estão se mobilizando”, diz a economista.