Assim como Keynes, Kalecki e Galbraith, os brasileiros Furtado, Belluzzo (à dir.) e Conceição combatem a economia que só vê o mercado e despreza as instituições sociais e políticas

Três brasileiros figuram entre os 100 principais economistas críticos do mundo, selecionados pela editora inglesa Edward Elgar. Celso Furtado, Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo e Maria da Conceição Tavares integram o Dicionário Biográfico de Economistas Críticos, ao lado de alguns dos mais importantes pensadores de toda a história das ciências econômicas, como John Maynard Keynes, Michal Kalecki e John Kenneth Galbraith. Um argentino, Raul Prebisch, fundador da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), ligada à ONU, faz parte da seleção, que inclui ainda, na América Latina, o chileno Anibal Pinto Santa Cruz e o cubano Carlos Diaz-Alejandro. Os organizadores da obra – com 656 páginas e vendida por US$ 190 –, professores de economia Philip Arestis e Malcom Sawyer, respectivamente das universidades South Bank e Leeds, pesquisaram, a partir de indicações, intelectuais vivos e mortos que se destacaram no século XX na crítica à escola neoclássica, surgida por volta de 1870. Essa concepção influencia hoje o pensamento da maioria dos economistas e orienta a formação na maior parte das universidades. O centro das atenções, nessa visão, é a atuação do indivíduo, supostamente abastecido por informações suficientes para torná-lo apto a competir pela sobrevivência. O mercado se encarregaria de promover a interação entre esses indivíduos. Aspectos fundamentais na relação entre as pessoas, como as questões de poder, de classe social e de raça, entre outras, são praticamente ignoradas nessa análise. Acima de tudo, pouca atenção é dada às instituições sociais e políticas.

Para se contrapor à orientação neoclássica predominante nas universidades brasileiras, foi criado em 1968 o Departamento de Economia da Unicamp. Belluzzo, um de seus fundadores, é autor de trabalhos importantes sobre a visão do capitalismo como uma economia monetária, destacando-se Valor e capitalismo, Enriquecimento e produção, A crise monetária no Brasil e O dinheiro e as transfigurações da riqueza. Também presente na polêmica econômica, Maria da Conceição Tavares, da UFRJ e da Unicamp, escreveu Da substituição de importações ao capitalismo financeiro e algumas das mais marcantes análises sobre o dólar e a hegemonia americana. Economista brasileiro mais conhecido internacionalmente, Celso Furtado é autor de clássicos como Formação econômica do Brasil.