Helcio Nagamine
Luxo em domicílio para 400 clientes

No começo, 18 anos atrás, era só mais uma lojinha de produtos de cama, mesa, banho e decoração, que atendia convencionalmente a clientela remediada de Fortaleza (CE). Foi a ousadia de um jovem egresso do curso de Letras, Francisco Campelo, genro da dona da loja Collection, que fez do negócio local um grande empreendimento que hoje atende todo o território nacional com uma proposta irresistível: o luxo em domicílio.

Com apenas 27 anos de idade, Campelo, com a mulher Emília, administra uma equipe de 20 funcionários que, em 800 metros quadrados de área construída no bairro da Aldeota, na capital cearense, vende algumas das mais sofisticadas grifes de luxo do planeta. Nomes como Christofle, Baccarat, Tiffany e Lalique, que disputam espaço pelas calçadas sofisticadas das imediações da rua Oscar Freire, em São Paulo, convivem harmoniosamente nas prateleiras da Collection.

Conquistar a confiança dessas grifes de luxo para um mercado novo nunca é fácil. Quando o interessado em uma representação vem de uma cidade de algum lugar ao Sul do Equador, cujo nome soa aos ouvidos dos executivos internacionais tão remoto quanto Timbuctu, a coisa se complica ainda mais. “Toda vez que íamos a uma reunião na França, precisávamos mostrar onde ficava Fortaleza, com o mapa do Brasil na mão”, conta Campelo.

O serviço de delivery, segundo Campelo, nasceu naturalmente, com o crescimento do negócio, que tem, atualmente, 40% de sua clientela formada por pessoas de outros Estados – metade disso, de São Paulo. “Temos um cadastro com os nomes de 400 clientes que recebem periodicamente catálogos e publicações das grandes grifes internacionais, aos quais informamos sobre as novidades”, explica o empresário. É gente conhecida, como a apresentadora Hebe Camargo, notória colecionadora de jóias e ídolo de 11 entre dez joalherias que atuam no mercado nacional. Mas também é um público que, de olho arregalado no noticiário policial, foge da publicidade e prefere a segurança de escolher seus mimos atrás das grades do próprio lar.

Ele garante que entrega qualquer peça do seu estoque em qualquer lugar do País no prazo combinado com o cliente – sem custo adicional e com a possibilidade de dividir o preço em até três vezes iguais, sem juros. Não se cobra nem a chamada – a loja trabalha com o sistema 0800, da Embratel. Se o pedido for de jóias, ele e a mulher o entregam pessoalmente. Se for uma peça de decoração e o cliente tiver dúvidas sobre onde colocá-la em casa, a Collection pode mandar um decorador próprio que, num relance, descobre o nicho ideal para o bibelô recém-chegado. “E tudo pelo preço sugerido ao varejo pela tabela em vigor nas lojas das grifes nos Estados Unidos”, assegura o empresário. Vá lá que os impostos americanos sobre os artigos de luxo são altíssimos e o preço final, por ali, meio salgado se comparado com o das matrizes européias. Mas, pelo menos, uma vez que o preço acaba sendo igual, ninguém precisa sair de Miami com um frágil vaso de cristal no colo, ou suar frio na hora de passar pela alfândega com o relógio novinho em folha. Não é pouca coisa.

Com o crescimento da demanda, Campelo resolveu render-se ao mercado e acaba de contratar um ponto para disputar de igual para igual na arena do luxo para poucos. Até o final do ano, a Collection terá uma filial, entre as ruas Haddock Lobo e Bela Cintra, no quadrilátero dourado dos Jardins. Para não criar atrito com as grifes já instaladas nas imediações, a nova loja só vai incluir as que ainda não têm butiques próprias na região. “Só as marcas das quais temos exclusividade já serão mais que suficientes para garantir o retorno”, acredita Campelo. Lá em Paris, ninguém duvida.