Como se sabe sobejamente, o Brasil e o mundo são movidos a cenários cambiantes em uma velocidade muitas vezes difícil de acompanhar. Observados sob a perspectiva histórica, os fatos e transformações dos últimos 40 anos – que consagram o nascimento da ISTOÉ na agora longínqua data de 1976, em plena temporada dos chamados “anos de chumbo” – parecem não caber no espaço exíguo de tempo dessas quatro décadas. Uma contradição dialética em si, mas plenamente justificável quando se coloca a lupa sobre a quantidade e dimensão dos eventos que marcaram o período. Ocorreu de tudo de lá para cá. O muro de Berlim virou ruína. Bebês de proveta saíram de laboratórios. O telefone celular se converteu em objeto de sobrevivência da sociedade moderna. Milhões foram dizimados pela Aids e outros milhões tomaram as ruas do Brasil exigindo eleições “Diretas já”. As Torres Gêmeas caíram, abatidas pela nova onda de terrorismo que assombra a humanidade, enquanto a sobrevivência do meio ambiente passou a ser causa primordial no concerto das nações. Da ditadura militar à democracia plena, o Brasil atravessou uma constituinte, sete eleições para presidente e dois processos de impeachment de mandatários ímprobos que acabaram apeados do poder. Sem contar as seguidas trocas de moedas, planos econômicos e o adeus a líderes inesquecíveis como Ulysses Guimarães e Tancredo Neves. Instituições sobreviveram aos solavancos. Francisco, o “papa do fim do mundo”, veio para encantar fiéis. A globalização passou a ser realidade. Mas nem por isso o combate a ela deixou de se mostrar intenso.
Nos últimos tempos, o Brexit, a surpreendente ascensão de Donald Trump nos EUA e a deplorável rejeição a imigrantes de regiões destruídas pelo fanatismo teimaram em exibir a face mais nefasta do protecionismo e do individualismo que marcam o ser humano. No seu aniversário de 40 anos, ISTOÉ foi buscar opiniões independentes sobre 40 fatos que transformaram o planeta e o país em que vivemos. 40 pessoas na faixa dos 40 anos que, direta ou indiretamente, tiveram suas vidas influenciadas por esses acontecimentos dão um testemunho muito particular sobre cada um deles. Assim escolhemos comemorar. A atleta Alice Cunha da Silva, que em 2015 venceu a olimpíada nuclear da Austria, fala sobre os efeitos do acidente de Chernobil. Cecília Lotufo, musa dos “cara pintadas”, lembra o impacto do processo de deposição de Collor. O procurador Deltan Dallagnol comenta a “Lava Jato” e a carreira do ídolo Ayrton Senna é tratada por Pietro Fittipaldi, corredor e neto do bicampeão, Emerson. Até a primeira bebê de proveta nascida no Brasil, Anna Paula Caldeira, dá seu depoimento sobre a fertilização in vitro.

Testemunhos, informações e opiniões independentes sempre trilharam a trajetória de ISTOÉ. Aqui sobreleva a forte demonstração de que um jornalismo apartidário, plural, analítico e participativo, com espírito crítico e intelectualmente ousado é possível sem trair a verdade factual. Isso posto, acreditamos firmemente serem indissociáveis a informação honesta e o direito à opinião própria – em um posicionamento responsável, que não induz mas deixa claro a firmeza de propósitos e convicções. Nessas quatro décadas, ISTOÉ e os profissionais que a fazem se orgulham de entregar semanalmente reportagens relevantes, com apuro estético tanto no texto como no visual, um conteúdo diferenciado e de grande influência, capaz de conquistar leitores cativos e ajudar nas transformações do País. É fascinante notar que a tradição de um jornalismo pautado pela dignidade e pela seriedade – o todo temperado por saudável ironia, de quando em quando -, com equilíbrio e provocador de reflexões, fixou raízes sólidas nos corações e mentes dos brasileiros. E ISTOÉ, modestamente, está convencida de que contribuiu para esse processo. É o nosso legado, que nos deu de volta um grande patrimônio: o privilégio de tê-lo como leitor.