O que você faria se estivesse numa expedição rumo ao miolo do planeta, num calor dos infernos, e deparasse com um minotauro peladão carregando uma mulher nua em sua direção? E se o monstro gosmento, grunhindo, jogasse essa bela mulher desfalecida em seus braços? Cenas inusitadas e sensuais como essa têm levado centenas de cariocas a uma maratona de calor, suspense e sensualidade num armazém do cais do porto do Rio, onde o espetáculo Viagem ao centro da Terra 2001 é encenado de quinta-feira a domingo. De Julio Verne a Dante, passando por Guimarães Rosa, a peça interativa cozinha idéias soltas para dar um ar intelectual a uma quase orgia bem comportada, em uma quase superprodução do ator Marcelo Serrado. São duas horas um pouco tensas para casais ciumentos e para quem teme escuro, sexo, Deus e o diabo.

O público chega ao local após uma breve viagem em um ônibus escuro, onde deve deixar sapatos e bolsas. No início do túnel, desnorteado pelo breu, o espectador-ator vai tateando por onde deve e não deve até chegar a um cemitério psicodélico, a uma biblioteca empoeirada e à esfinge, uma mulher gorda e despida que usa as adiposidades para exagerar a dramaticidade. É hora de homens e mulheres se separarem por dois túneis escuros, guiando-se por uma corda. No caminho dos homens, não é difícil perceber que são jovens e nuas as atrizes que tornam a caminhada mais prazerosa do que tenebrosa, com carícias e beijinhos no cangote que elevam a temperatura, já semelhante à do centro da Terra. É quando se tem certeza de que a salada teórica não passa de disfarce para uma gostosa brincadeira com a libido do público. Homens nus fazem o mesmo na fila das mulheres.

A moça despida ressuscita nos braços do espectador boquiaberto e o conduz pelos corredores, correndo, até chegar ao safe sex. É um conjunto de tubos transparentes, cada qual com um homem ou uma mulher dentro. Sem roupa, é claro. Passar entre os tubos de plástico, podendo apalpar ou ser apalpado, é mais uma “experiência trágica” dos heróis do cais do porto. Para quem vai ao teatro atrás de grandes interpretações, não vale pagar R$ 41 (R$ 31 às quintas-feiras). Como brincadeira interativa ou terapia sem compromisso, Viagem ao centro da Terra é um sucesso no verão do Rio. “Gostei muito da corda na escuridão. É sensual e relaxante. Da parte mais macabra não gostei muito”, diz a empresária Cláudia Ferraz, 35 anos, que só recomendará a experiência aos amigos “expansivos”.

Depois das camisinhas gigantes com pelados e peladas, o público se divide entre os que serão carrascos, degolados, crucificados ou esmagados por uma bola gigante à Indiana Jones. A maratona de calor, poeira e escuridão se encerra na sala do paraíso, onde todos brincam de roda. O grupo se divide em três corredores de banho coletivo: o dos homens, o das mulheres e o misto. Os marmanjos interessados no misto em geral se frustram. As mulheres costumam desistir do misto ao saber que a nudez é obrigatória. Viajar ao centro da Terra tem seu preço.