Primeiro foi Carmem Miranda. Mais tarde, a bossa nova e finalmente o futebol. Agora, quem acaba de consolidar um fã-clube internacional é o bom e velho elixir feito com cachaça, limão, gelo e açúcar. Nada mais. Seu nome, muito conhecido dos brasileiros, exige um certo contorcionismo dos americanos: Ky-pee-reen-ya. Difícil de pronunciar, o drinque é muito fácil de beber. Pelo menos o astro Axl Rose não fez nenhuma reclamação. Durante sua passagem pelo Rock in Rio, o vocalista do Guns n’ Roses passou tardes inteiras na piscina com um copo na mão. Em Nova York, a caipirinha começa a ser vendida como água. “Entre os coquetéis estrangeiros, o drinque só perde para a margarita. Os mexicanos fazem um bom marketing com a tequila e nós estamos acostumados com os hábitos de consumo do país vizinho”, diz o gourmand Frank Bates.

Na terra do Tio Sam, um litro de pinga é vendido a US$ 10 (R$ 20), dez vezes mais do que o preço no Brasil. Mesmo assim, no bar e restaurante Coffee Shop, em Nova York, frequentado pelo beautiful people, a caipirinha é um sucesso. “Nos fins de semana, vendemos uma média de seis litros de cachaça transformados em caipirinha”, conta a garçonete Julie.

Max G Pinto
O tradicional, feito com limão, gelo, cachaça e açúcar

A bebida alcançou o topo de sua escalada social. Criada há mais de um século nas lavouras de São Paulo por algum matuto inspirado, foi trazida aos botecos da capital paulista por universitários nascidos no interior. Em 1995, finalmente, foi oficializada pela Internacional Bartenders Association (IBA) como um dos 62 drinques reconhecidamente internacionais. Só para fazer uma comparação maldosa, coquetéis como hi-fi e cuba-libre estão fora da lista. A receita é simples. Basta cortar meio limão-taiti em fatias, sem as sementes, colocá-lo em um copo com açúcar, espremer com o socador e adicionar uma dose (50 ml) de cachaça e gelo. “Para ser oficializado, uma das condições é que o drinque seja fácil de fazer em qualquer lugar do mundo”, explica Derivan Ferreira de Souza, 45 anos, barman e sócio do restaurante Bistrô, em São Paulo, um dos doze membros da IBA em 1995.

Oficialmente, são consumidos 1,3 bilhão de litros de cachaça por ano no Brasil. Somando-se a produção em alambiques domésticos, o consumo nacional pode alcançar quatro bilhões de litros. A Associação Brasileira de Indústrias de Bebidas estima que 20% de toda a cachaça assume a forma de caipirinha. A proporção tende a aumentar com as novas versões multicoloridas da bebida. A última moda é substituir o limão por frutas como o kiwi e a lima-da-pérsia. “Alguns dão o nome de caipifrutas. Essas variações são necessárias para agradar aos clientes. Há senhoras refinadas que torcem o nariz para cachaça com limão, mas não resistem a uma bela caipirinha de morango”, explica Derivan, autor de proezas como a exótica caipira de frutas servida no Bistrô.  

Caipirinha de frutas
Max G Pinto

Ingredientes
1 dose de cachaça (50 ml);
1/2 fatia de abacaxi cortada
em cubos;
polpa de 1/2 maracujá médio;
4 gomos de lima-da-pérsia;
3 uvas-itália cortadas
ao meio e sem caroço;
1 rodela de laranja;
2 colheres (bar) de açúcar;
3 cerejas.

Em um copo long drink, coloque as frutas, menos a polpa de maracujá, e adicione açúcar. Pressione tudo com o socador. Junte o maracujá e a cachaça, misturando sempre com um mexedor. Adicione cubos de gelo até completar o copo.