É praticamente unânime entre os sociólogos a constatação de que a liberdade de expressão é uma das grandes conquistas civilizatórias da humanidade. Atentar contra essa conquista significa violentar a sociedade como um todo, renegar séculos de evolução e alvejar valores universais como o direito de livre pensar e o próprio conceito de liberdade. O covarde ataque de terroristas radicais islâmicos contra o jornal satírico “Charlie Hebdo”, em Paris, na semana passada, não atingiu apenas os 12 mortos ou os franceses, que passaram a protagonizar uma rotina de guerra, com medo e incertezas. Os disparos que vitimaram cartunistas, jornalistas e policiais acertaram também o peito de todos os que desejam viver em um mundo onde o respeito ao próximo, às divergências e o direito de ir e vir sejam premissas irrevogáveis. Alvejaram inclusive os muçulmanos, que, em sua maioria, também rejeitam o radicalismo e o terror como plataforma de ação. Para conter ações como essas não basta a indignação. Reagir a atos como o ocorrido em Paris é um dever da humanidade e não apenas das autoridades francesas ou europeias. Porém, o desafio que se coloca agora é de como promover uma reação sem fortalecer os extremistas – também nocivos à civilização – que apregoam o aumento da intolerância, a xenofobia e a islãfobia, comportamentos que no final da história em nada contribuem para a evolução dos povos e que só acirram uma guerra sem vencedores.

Pela violência, pela covardia e pelas consequências de dimensão planetária, o terror que se abateu sobre a França ganhou uma justa repercussão mundial. Mas não é apenas o terrorismo de grupos religiosos radicais que vem promovendo, nos últimos anos, ações que atentam contra a liberdade de expressão e atingem em diversas partes do mundo os meios de comunicação e os profissionais que neles atuam. Diariamente surgem em todos os cantos tentativas de controlar ou intimidar a mídia, seja por intermédio de projetos de lei, seja por abuso de poder econômico e até por ameaças contra a vida de jornalistas e cinegrafistas. Também a esses ataques é preciso que os adeptos de uma sociedade capaz de conviver com as divergências permaneçam atentos. 


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