O ministro da Defesa, Jaques Wagner, fez parte da luta contra a ditadura no início da década de 1970. Na época, ele estudava Engenharia Civil na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro. Documentos produzidos por órgãos de repressão registraram sua militância naquele período. Um relatório confidencial de 1973 do Serviço Nacional de Informações (SNI) inclui o nome de Wagner em uma lista apontada por “elementos pertencentes ou tendo vinculações com o Partido Comunista do Brasil (PCdoB)” no Rio de Janeiro. Segundo o registro, as pessoas relacionadas estavam “envolvidas em atividades subversivas”.

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Na lista do SNI, ao lado da referência a Jaques Wagner (grafado “Jacques”), aparece entre parênteses o nome “Ary”, que seria seu codinome na organização. Na época, o PCdoB era um partido clandestino, perseguido pela ditadura, e os militantes ocultavam suas identidades verdadeiras nas atividades políticas para dificultar o trabalho da repressão.

Outra referência a “Ari” (escrito dessa vez com "i") ficou registrada em um documento, também com tarja de “confidencial”, do DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna) do Rio de Janeiro. Em depoimento ao órgão em 1975, um militante do PCdoB afirma que “Ari” fazia parte da base do partido na PUC. Em sua passagem pela PUC, Wagner presidiu o Diretório Acadêmico (DA) de seu curso. Por causa da perseguição dos militares, ele abandonou a faculdade e deixou o Rio. Mais tarde, foi para a Bahia, onde fez carreira sindical e política e chegou a governador do estado por dois mandatos, de 2007 a 2013.

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Os DOI-CODIs ficaram conhecidos como um dos braços mais violentos e sanguinários da ditadura. A tortura era um dos métodos mais usados nos interrogatórios do órgão para forçar os presos a fornecer informações que comprometessem as organizações que lutavam contra o regime militar. Nem tudo o que foi dito nos depoimentos correspondia à verdade.

No início da década de 1970, o PCdoB do Rio de Janeiro tinha uma estrutura paralela, com atuação no movimento estudantil, chamada União da Juventude Patriótica (UJP). Tratava-se de uma estratégia para manter o “trabalho de massas”, pois o PCdoB era um partido clandestino. Os integrantes da UJP não necessariamente conheciam o funcionamento interno do partido. No período em que estes arquivos foram produzidos, os órgãos de segurança dos militares investigavam as relações entre as duas organizações. (Eumano Silva)