Há praticamente um consenso, entre economistas, de que o Brasil necessita de um ajuste fiscal. A grande dificuldade, no entanto, é encontrar a dose certa do remédio, especialmente no momento em que a economia começa a emitir sinais de fragilidade no seu indicador mais importante, que é o emprego. Nesta semana, houve 800 demissões na Volks e 244 na Mercedes-Benz, seguidas de greves nas duas montadoras do ABC paulista. Ainda que os cortes resultem de problemas internos das empresas, como, por exemplo, a perda contínua de mercado da Volks nos últimos anos, é inegável que as empresas são também afetadas pelo fim da política de desonerações fiscais – um regime de incentivos que, com Joaquim Levy e Nelson Barbosa na economia, não tem data para voltar.

O principal risco, em momentos de alta do desemprego, é a contaminação das expectativas. Nem tanto entre investidores, mas sobretudo entre quem consome. O trabalhador, ainda empregado, vê o vizinho demitido e ordena à família: é hora de apertar os cintos. Menos consumo, menos emprego, menos arrecadação fiscal e, de novo, mais necessidade de ajustes fiscais.É essa a espiral negativa que deve ser evitada a todo custo. Nas primeiras sinalizações que fizeram até agora, Levy e Barbosa soltaram metas realistas de ajuste e não adotaram discursos sanguinários. Com o corte de despesas não obrigatórias de R$ 1,9 bilhão ao mês no orçamento federal, é possível começar a reequilibrar as contas. Mas Barbosa deixou claro que a relação dívida/PIB só entrará em trajetória declinante a partir de 2016.

O que ainda falta no governo é um discurso mais otimista em relação a outros aspectos da política econômica, que volte a despertar o “espírito animal” dos investidores e mantenha acesa a chama do consumo. Se alguns setores enfrentarão dificuldades, outros, como, por exemplo, os exportadores, serão favorecidos pelo novo momento cambial. Mas o mais importante será sinalizar a continuidade de uma política de distribuição de renda, que alargue as oportunidades e o mercado de consumo no País.