Com um tipo de humor singular, o comediante americano Jerry Seinfeld arrebanhou milhões de espectadores nos Estados Unidos na primeira metade dos anos 90, protagonizando seriado sobre o cotidiano de um grupo de amigos em Nova York, todos trintões e ligeiramente desajustados. No Brasil, o sucesso também é impressionante. Até hoje, o canal pago Sony não consegue tirar do ar as reprises de Seinfeld. Para aproveitar a onda de sucesso – ele estava recebendo US$ 1 milhão por episódio quando decidiu interromper a série –, o comediante lançou O melhor livro sobre o nada (Editora Frente, 160 págs., R$ 19) e imediatamente entrou em todas as listas dos mais vendidos. A edição americana ficou nove meses na lista do jornal The New York Times.

O texto é engraçado, leve. Reproduz algumas historinhas e piadas que Seinfeld contava quando era um stand-up comedian, tipo de profissional tipicamente americano, que se apresenta em teatros e casas noturnas. Certamente a leitura será muito mais saborosa para quem é fã do seriado, pois um dos segredos do êxito é a empatia estabelecida pelos quatro personagens. Mas, se o contato antecipado com a psicologia de Jerry Seinfeld é recomendável, não é indispensável. Princípio também aplicado aos livros de Woody Allen, que desobrigam o conhecimento prévio de seus filmes. Os dois, aliás, têm várias coisas em comum. Ambos são judeus e fazem gracinhas partindo de reflexões sobre aspectos inusitados da condição humana.

Politicamente incorreto, Seinfeld ironiza todas as minorias, inclusive os judeus. Se ele é um gênio, parte da genialidade está no postulado básico de saber rir de si mesmo. E na capacidade ainda mais rara de se identificar com o espectador (no caso, o leitor) comum. Embora ele próprio não tenha nada de comum.