A Bahia é de todos os santos, porém a “divindade” mais polêmica começa a perder devotos. O templo de Antônio Carlos Magalhães também foi atingido pelo furacão peemedebista Jader Barbalho. Depois de mais de 40 anos, o estilo “vencer, custe o que custar” fez com que o feitiço virasse contra o feiticeiro. Apesar da mão- de-ferro com a qual subjuga e oprime aliados, oposição, empresários, servidores e outros tantos setores que vivem uma espécie de “estado de terror”, a Bahia vai se rebelando como pode. A debandada de seus pares na Assembléia Legislativa, que para muitos somente aconteceria após o GF (grande funeral, como é chamado) do cacique pefelista, está mais próxima do que ele próprio imaginava. A estratégica saída de Benito Gama, da tropa de choque de ACM, para o PMDB pavimentou a estrada para os descontentes com o estilo malvadeza baterem em retirada. A oposição, que reúne PMDB, PT, PSB, PDT, PCdoB e parte do PSDB e do PSC, faz as contas: cinco deputados federais e cerca de 10 estaduais vão migrar do carlismo para as forças de oposição, principalmente as de centro. Adversários já impuseram a ACM grandes derrotas no Estado: em 1986, com Waldir Pires, que chegou ao governo da Bahia pelo PMDB com 2,67 milhões de votos e, em 1992, quando 47,19% dos soteropolitanos deram a Lídice da Mata, então no PSDB, a prefeitura de Salvador. Hoje, Waldir (no PT) e Lídice (no PSB) mantêm-se na oposição.

Wandaick Costa

O bloco dos contra na Assembléia ganhou mais força a partir de dezembro quando passou de 16 para 21 deputados, 30% do Legislativo baiano. O resultado das eleições municipais, apesar da reeleição do prefeito Antônio Imassahy em Salvador, já mostrava o enfraquecimento do carlismo no interior. O PT, por exemplo, venceu em sete grandes cidades, entre elas Vitória da Conquista, Juazeiro, Senhor do Bonfim e Itabuna. A retaliação ao bloco oposicionista, ação frequente do senador para punir adversários, não demorou a chegar. Depois de copiar o chefe e prorrogar o mandato da mesa diretora na Assembléia, o presidente Reinaldo Braga (PFL), obedecendo ao Palácio de Ondina, que obedecia a ACM, golpeou a oposição. Na segunda 12, após reunião com o governador César Borges, ficou acertado que os contra ficariam fora da mesa diretora, ato que contraria o critério de proporcionalidade. Para a oposição, a manobra foi uma tentativa desesperada de barrar traições, o que poderia tirar dos pefelistas os principais cargos da direção da Assembléia. A tese é negada pelo líder do PFL, Pedro Alcântara. “Isso é conversa. Não existe oposição na Bahia, ACM é uma religião”, reagiu ele, que já foi um anti-carlista. A oposição acionou seus assessores e lideranças sindicais para ocupar as galerias e junto com ela marcar posição. Camisetas negras com o slogan “Vamos tirar a Bahia das trevas”, apitos e xerox da Constituição Estadual foram distribuídos. Com o apoio de integrantes da bancada federal, como Haroldo Lima (PCdoB), Jacques Wagner, Waldir Pires e Nelson Pellegrino, do PT, que ficaram no plenário, os anti-carlistas reagiram à decisão do deputado pefelista Heraldo Rocha de interromper a obstrução e dar início à votação. Um estrondoso apitaço era o sinal da oposição de que partiria para o confronto, um dos maiores registrados no Legislativo baiano. As galerias, aos gritos de “democracia, democracia”, intensificavam o protesto. Depois da frustrada tentativa de barrar a votação, a oposição decidiu não participar do pleito. Num salão fora do plenário, um trailler do que será a sucessão estadual, com o “cabeça branca”, apelido dado a ACM, candidato. Numa demonstração de força e união, toda a oposição e mais os deputados federais e presidentes de partido fizeram duros e emocionados discursos contra os desmandos. Em coro, começava ali a luta pelo fim do carlismo, ou, como prefere dizer Jacques Wagner, que disputa a indicação pelo PT com Waldir Pires em 2002, o reequilibrio das forças políticas.

Wandaick Costa
Deputados fazem apitaço no plenário da Assembléia baiana contra a manobra que excluiu a oposição da mesa diretora

A decisão de ACM de tentar manter sua liderança no Estado não assusta a oposição. “Vai ser bom ele vir com tudo. Vai ser mais fácil bater”, desafia Jaques Wagner. O parlamentar ressalta que a concentração de poder transforma ACM “em dono da Bahia” e prejudica o Estado. Muitos empresários deixaram de se instalar na região. “Aqui não se faz nenhum negócio que não passe por ACM”, afirma. Para Waldir Pires, o que sustenta o carlismo é sua cumplicidade com as instituições públicas: “Ele administra com o chicote, com o dinheiro. Suprime a voz da oposição no rádio, na tevê e no jornal de sua propriedade. Conduz com dinheiro público o enriquecimento de suas empresas. Isso é banditismo”, acusa Waldir.