André Dusek

"Declaro o senador Jader Barbalho eleito. Convido Vossa Excelência a assumir a presidência do Senado.” A contragosto, no começo da noite da quarta-feira 14 um abatido Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) teve de passar o bastão da presidência do Senado a seu arquiinimigo Jader Barbalho (PMDB-PA). Depois de quase cinco décadas no poder e de dez meses de batalha, ACM finalmente foi à lona. Levou junto na queda o correligionário Inocêncio Oliveira (PE), que também tomou uma sova do tucano Aécio Neves (MG) na disputa pela presidência da Câmara. Mesmo nocauteado, o cacique baiano ainda tenta voltar ao ringue e parte para cima de um oponente ainda mais forte – o presidente Fernando Henrique Cardoso. Com golpes abaixo da linha de cintura, Antônio Carlos acusa FHC de ser conivente com a corrupção no governo e, nos bastidores, ameaça divulgar novas denúncias contra o presidente. “Vou fazer um discurso na terça-feira que vai acabar com o governo e Fernando Henrique”, anunciou ACM ao senador Jorge Bornhausen (SC), após ouvir um relato da conversa do presidente do PFL com FHC. Chegou ainda ao Palácio do Planalto a informação de que Antônio Carlos está ameaçando ressuscitar o Dossiê Cayman – a suposta conta no paraíso fiscal das principais estrelas do tucanato. Cansado de chantagens e blefes, desta vez Fernando Henrique promete um troco à altura: de uma tacada só demitir o ministro das Minas e Energia, Rodolpho Tourinho, e os presidentes da Eletrobrás, Firmino Sampaio Neto, e do Instituto Nacional do Seguro Social, Crésio Rolim, fiéis pupilos de ACM.

Dida Sampaio/AE

Já não causa o mesmo efeito o velho jogo de Antônio Carlos, de ameaçar adversários com dossiês. Ele tem feito muito mais barulho do que apresentado denúncias efetivas contra seus oponentes. Faz tempo que o senador baiano vem insinuando dispor em seus arquivos de uma munição mais pesada. Há cinco anos, Juliana Motta, a caçula das três filhas do ex-ministro das Comunicações Sérgio Motta, fugiu de casa com uma pasta recheada de documentos particulares do pai. Numa escala em Salvador, ela foi descoberta pela polícia baiana ao tentar fazer compras com um cartão de crédito de Serjão. Com ela, foi apreendida a misteriosa pasta, entregue pelo delegado a Antônio Carlos. Na época, ACM devolveu os originais a Sérgio Motta, mas teria mantido cópias em seus arquivos. Juliana também portava cartões bancários de contas no Exterior em nome do ex-ministro. Ela foi liberada sem que o fato fosse registrado em um boletim policial de ocorrência. A partir daí, melhoraram as estremecidas relações de Serjão com Antônio Carlos, que ganhou mais cacife no governo.

André Dusek

Diferentemente daquele tempo, ACM hoje está ferido de morte. Além de ter perdido a disputa pelo comando do Congresso, virou alvo dos antigos parceiros do PMDB e do PSDB e entrou na mira de Fernando Henrique. É também considerado um político desagregador em seu próprio partido. Mesmo em baixa, não perde a pose. Na quinta-feira 15, cobrou do líder Hugo Napoleão a presidência da mais importante comissão técnica que ficar com o PFL, de onde pretende continuar atazanando o governo. Habituado a vetar correligionários e adversários, ele agora está correndo o risco de ter de provar o gostinho de seu próprio veneno. Tucanos e peemedebistas planejam derrotá-lo, se ele for indicado para o comando de uma das três principais comissões do Senado – Constituição e Justiça, Assuntos Econômicos ou Fiscalização e Controle.

Rasteira – Na esteira do fiasco de ACM, o governador tucano do Ceará, Tasso Jereissati, acabou ficando bravo por também ter perdido espaço no PSDB. Menos de duas horas depois da vitória de Jader, o senador Sérgio Machado (CE), desafeto de Tasso, foi reconduzido por 12 dos 14 senadores do partido à liderança do PSDB no Senado. Teve mais. Fiel aliado do governador, o senador Lúcio Alcântara (CE) estava certo de que seria escolhido primeiro vice-presidente do Senado, mas acabou ficando fora da Mesa. “Fui traído e enganado, levamos uma rasteira”, chiou Alcântara. Irritado, Tasso telefonou para Fernando Henrique numa tentativa frustrada de virar o jogo no partido, que beneficia claramente seu principal adversário no tucanato, o ministro da Saúde, José Serra. Indignado, ele ameaçou desistir do partido e embarcar na candidatura do ex-ministro Ciro Gomes (PPS). O máximo que conseguiu foi adiar por alguns dias a escolha do deputado Jutahy Júnior como novo líder do PSDB na Câmara.