A frase mais ouvida nos últimos dias é “outro helicóptero caiu”. A onda de acidentes traz uma enorme incerteza quanto à segurança dessas aeronaves. Especialistas do setor não vêem motivos para pânico. Alegam que o aumento dessas ocorrências é proporcional ao crescimento do mercado. Pela ótica dos números, eles têm razão. O Brasil ocupa a sétima posição no ranking das frotas do mundo. De acordo com o Departamento de Aviação Civil (DAC), há 875 dessas aeronaves cruzando os céus do País. Quase metade delas congestionando os corredores aéreos da capital paulista. Movimento maior só em Nova York. No ano passado, o Serviço Regional de Proteção ao Vôo registrou 168.634 operações no Campo de Marte e no Aeroporto de Congonhas, os maiores da cidade. Dados da Heli Solutions, uma das gigantes do setor, apontam para um crescimento de 20% nos últimos dois anos. Em 2000, 75 novas unidades foram comercializadas. No ano passado, o mercado movimentou mais de US$ 100 milhões.

Falhas mecânicas e de manutenção existem. Mas a maior causa dos 12 acidentes com 13 vítimas fatais ocorridos em 2000 é a imprudência. Há consenso entre investigadores de acidentes que a experiência é um dos fatores causadores de catástrofes. O caso de Ronaldo Jorge Ribeiro, o piloto da família Diniz, parece ser mais um a engrossar a triste estatística. Ribeiro era tido pelos colegas como excelente piloto. Tinha quase 30 anos de pilotagem. Começou a carreira na Força Aérea e trabalhou com o governador Mário Covas. Apesar de voar em uma máquina de última geração, equipada com sistemas de navegação que permitiam vôo por instrumentos, Ribeiro, talvez sob ordens de seu patrão, pode ter passado dos limites, como se verá mais adiante. O vôo que matou Fernanda Vogel e o próprio piloto já começou mal. Ao decolar do Campo de Marte, ele informou o plano de vôo da primeira etapa do trajeto, do aeroporto até a sede do Grupo Pão de Açúcar, na avenida Brigadeiro Luiz Antônio, região da avenida Paulista. Até aí nenhum problema. O aeroporto não está aparelhado para fornecer a condição meteorológica de Maresias, por exemplo. Ribeiro deveria então, por rádio, comunicar às autoridades seu plano para a etapa seguinte, da sede do grupo ao litoral norte. Até a quinta-feira 2 não havia a confirmação do contato do piloto com os serviços de vôo. “O piloto Ronaldo Jorge Ribeiro deveria ter comunicado o vôo até Maresias. E o Sistema de Proteção ao Vôo deveria ter condições de informar em 24 horas o procedimento do piloto. Não o fez”, diz o brigadeiro Álvaro Dutra, ex-assessor da Presidência da República e especialista em proteção ao vôo.