Nem Marlboro nem Hollywood. Em Minas, a preferência fica com os cigarros do Jeca Tatu – o famoso personagem de Monteiro Lobato. Em pleno século XXI, o caipiríssimo cigarro de palha está fazendo o maior sucesso entre a moçada de Belo Horizonte – que abomina cilindros de papel e só pita os palheiros. Tudo começou há dois anos, quando o empresário José Haroldo Vasconcellos resolveu “industrializar” o cigarro caseiro. Ele gostava de fumar o palheiro, mas não sabia enrolar. Pedia aos amigos para fazê-lo e oferecia às visitas. Todo mundo adorava. Foi então que Vasconcellos teve a idéia de produzi-los em série. Montou a empresa Souza Paiol e sofisticou os pitos. Agora, eles vêm com um anelzinho de borracha para segurar a palha em volta do fumo de rolo picadinho. Hoje, existem no Estado mais de 56 marcas de cigarro de palha – das quais 53 são da Souza Paiol. Só no ano passado foram produzidos cerca de 50 milhões de pitos.

Marcos Ladeira
Ana Lopez e Ivan Porto são fãs do palheiro: é mais gostoso e fuma-se menos porque apaga a toda hora

Muitos fumantes, entretanto, escolhem o palheiro como uma opção mais “saudável” ao cigarro de filtro. É o caso da estudante Ana Lopez, 18 anos. “Estou tentando parar, mas não consigo. Então, fumo o de palha. Como ele exige paciência para pitar, sobra menos tempo para fumar”, aposta ela. “É charmoso fumar cigarro de palha e ele faz menos mal à saúde”, alega a universitária Francilene Guimarães Carneiro. O argumento não se sustenta. Assim como o fumo industrial, o cigarro de palha também leva nicotina e alcatrão, pode provocar câncer e causar dependência. Foi o que aconteceu com a jornalista Mônica Braga. “Deixei de fumar o de papel e aderi, há quase um mês, ao de palha, só que também me viciei nele e não consigo parar”, diz.

Mas não são só os jovens que estão aderindo ao cigarro caipira. O vice-governador de Minas Gerais, Newton Cardoso, não dispensa o artesanal no dia-a-dia. “O palheiro é meu companheiro. Só deixo de pitar quando despacho com o governador Itamar Franco”, diz Cardoso. Itamar não gosta de cigarro e o vice-governador conta que ganhou dele uma caixa de palhinha com a condição de que fumasse bem longe. O comerciante Ivan Porto é outro que está sempre com um palheiro no bolso. “Este cigarro é mais gostoso e faz a gente pitar menos. Ele apaga a toda hora e exige um ritual para degustá-lo”, descreve.

Quem achou que a moda é coisa típica de mineiro errou. No Rio e em São Paulo os antitabagistas vão ter que conviver com baforadas de cheiro forte em seus rostos. Os postos da via Dutra, que liga as duas cidades, já estão vendendo o maço com 20 unidades por R$ 2. O mesmo preço dos comercializados nas tabacarias e bares noturnos de Belo Horizonte. São para apreciadores, feitos com fumo de corda picado com canivete e carinhosamente enrolado em palha de milho. Empolgadas, as empresas já colocaram seu produto em 14 Estados brasileiros. É a vitória do Jeca Tatu.