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Marisa (ao centro) coordena o grupo que atuará de forma simultânea pela cidade

A idéia só poderia sair mesmo da cabeça de uma prefeita que também é psicóloga. Pouco antes de assumir o comando administrativo da maior cidade da América Latina, Marta Suplicy reuniu pessoas de sua confiança, que tinham em comum reflexões sobre a ética. Na ocasião, a petista tentava encontrar uma fórmula politicamente correta de oferecer um salário digno a seus secretários. Entre outras dúvidas, discutia o impacto entre a população de um aumento no salário de seus principais auxiliares. De repente, Marta pensou alto: “Eu queria mesmo era saber o que a população pensa.” Em seguida, dirigiu-se a uma de suas convidadas, a pedagoga Marisa Greeb, que atua com psicodrama há três décadas: “Marisa, não dá para você juntar uns 500 psicodramatistas e ouvir o pessoal?”

No jargão dos psicólogos e afins, Marta teve um insight – a resposta, em geral intuitiva e repentina, para uma questão. Embora inédita no mundo, a proposta de um megapsicodrama público extrapolou o campo das idéias. Daqui a um mês, centenas de psicodramatistas estarão a postos em mais de 100 pontos da cidade, durante três horas, para saber o que aflige o morador da cidade e como cada um pode ajudar a melhorar sua própria comunidade. “O foco do trabalho será o que cada morador pode fazer para ter uma feliz cidade”, diz Marisa. Sem vínculos institucionais, o projeto, batizado Ética e Cidadania, começou a receber adesões rapidamente. Mais de 300 profissionais participaram do primeiro encontro preparatório do projeto, realizado na semana passada, no Teatro da Universidade Católica (Tuca). Entre eles, havia médicos, psicanalistas, psicólogos, pedagogos e assistentes sociais, todos dispostos a trabalhar de graça, por algumas horas, no projeto da prefeita.

 

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D’ALE TRIBO “O povo não se acha porque não há acolhimento do poder público”, diz Judit (acima, à dir.)

Criado pelo médico romeno Jacob Levy Moreno nos anos 20, o psicodrama é um método que utiliza técnicas de representação teatral para tentar entender e solucionar problemas – não apenas de natureza pessoal. Apesar de ser mais conhecido pelo uso terapêutico, o psicodrama também é adotado com fins didáticos. “No nosso caso, quem se apresentar para dramatizar será um porta-voz de outras pessoas em busca de uma ação consequente no cotidiano”, explica o psiquiatra Anibal Mezher, que atua com psicodrama há 33 anos. Entre os profissionais que já se preparam para a empreitada, há grupos experimentados em trabalhos comunitários, como os integrantes da Companhia de Psicodrama Público D’Ale Tribo. “O povo não se acha porque não há acolhimento por parte do poder público”, comenta Judit Busanello, da D’Ale Tribo. Pelo menos em uma ocasião, no dia 21 de março, os mais de dez milhões de moradores de São Paulo terão “acolhida” garantida.