Anunciado como uma biografia do filósofo político Allan Bloom, o novo livro de Saul Bellow, 85 anos, era aguardado com ansiedade. Desde More die of heartbreak, de 1987, sem título em português, o escritor canadense não entregava à sua legião de admiradores um romance ou um texto mais longo. Quando Ravelstein (Rocco, 216 págs., R$ 23) chegou às livrarias no ano passado gerou um verdadeiro choque. Que fosse fragmentado e cifrado já era previsto. Mas está há anos-luz de ser uma biografia, conforme o esperado. No livro, Chick, alter ego de Bellow, se compromete a escrever sobre o amigo Abe Ravelstein, o equivalente de Bloom. Só que ninguém imaginava ver Bellow escancarar a homossexualidade de Bloom, revelando que o amigo morreu de Aids e não de cirrose hepática, como foi noticiado em 1992.

A primeira parte é um retrato divertido da vida dispendiosa de Ravelstein em Paris, as fortunas gastas com roupas, cristais e obras de arte, as orgias gastronômicas nos melhores restaurantes e o conforto no Hotel Crillion, o mesmo onde Michael Jackson se hospeda. Na segunda, acompanha-se as conversas entre Chick e sua jovem mulher Rosamund, ex-aluna de Ravelstein. É um texto de uma vitalidade que pode ser resumida na frase final do livro: “Você não desiste facilmente de uma criatura como Ravelstein em favor da morte.” Assim como Saul Bellow não desiste de viver e escrever bem enquanto pode e gosta.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias