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O prédio de Bilbao, Espanha, foi concebido como uma rosa de titânio por Frank O. Gehry.

Foi só o Guggenheim Museum de Nova York decidir erguer filiais mundo afora, criando as festejadas versões de Berlim e Bilbao – este último concebido como uma rosa de titânio pelo arquiteto americano Frank O. Gehry –, para que 60 cidades, entre elas o Rio de Janeiro, se oferecessem para abrigar novas unidades da famosa grife cultural. Mas a planejada vinda da fundação americana ao Brasil já dividiu o meio das artes plásticas. O colecionador carioca Gilberto Chateaubriand, dono da maior coleção particular de arte do País e membro do conselho internacional do Museum of Modern Art (MoMa), de Nova York, é um dos que torcem o nariz diante da possibilidade da instalação de um Guggenheim no Rio, possivelmente na área portuária da cidade. “É descabido, pois uma instituição do porte do Guggenheim vai acabar absorvendo todos os recursos e vantagens fiscais em detrimento das outras entidades existentes”, explica Chateaubriand, para quem o sonhado museu faria mais sentido em capitais menores, como Recife ou Salvador.

Quando esteve no Brasil, no início de fevereiro, a curadora francesa Catherine David, uma das mais importantes figuras do cenário artístico internacional, desfechou severas críticas ao projeto globalizante, qualificando a grife Guggenheim de “McDonald’s da cultura”. Na ala apreensiva das artes, quem partilha da mesma opinião é a artista carioca Beatriz Milhazes, que faz coro com os colegas Antonio Dias e Adriana Varejão, ambos poucos simpáticos à iniciativa. “À exceção do Museu de Arte Moderna de São Paulo, nenhuma instituição brasileira tem condições financeiras de adquirir obras e formar uma coleção e é disto que o Brasil precisa no momento”, assinala Beatriz. Segundo o banqueiro Edemar Cid Ferreira, presidente da Associação Brasil + 500 e do Brazil U.S. Council – responsável pelas negociações brasileiras com o Guggenheim –, o projeto está orçado em aproximadamente US$ 300 milhões. “Cada museu deve buscar seus patrocinadores. O Brasil está mergulhado no mundo globalizado e não deve eliminar a hipótese de ter uma participação mais ativa”, argumenta Edemar.

Heloisa Lustosa, diretora do Museu Nacional de Belas Artes carioca, palco de grandes mostras internacionais, integra o time dos que desejam boas-vindas à instituição americana. “Ter mais um museu de porte internacional, trazendo exposições e trabalhando com a nossa arte, só beneficiaria o Rio”, acredita ela. Há quem considere positivo o simples fato de a entidade ter acenado com a abertura da sua primeira filial latino-americana no Brasil e não na Argentina ou Chile, outros dois países candidatos. O marchand alemão Thomas Cohn, por exemplo, acha um preconceito imaginar que os americanos não vão mostrar arte brasileira, como afirmam muitos críticos do projeto. “Alguém viu o programa deles? O fato de termos um Guggenheim aqui significa o reconhecimento do Brasil como um lugar marcante no mundo das artes”, defende Cohn. Polêmicas à parte, qualquer iniciativa honesta em relação à cultura deve, a princípio, ser vista com bons olhos. Mas é importante levar em conta as enormes dificuldades enfrentadas pelos museus brasileiros. E, caso o Guggenheim Museum se instale no País, vamos torcer para que ele seja sede de um acervo de peso e não apenas uma obra arquitetônica de cartão-postal, a exemplo do prédio de Bilbao.