Uma parte do núcleo do óvulo é aspirada

Os resultados de uma pesquisa desenvolvida no Brasil poderão renovar as esperanças de um grupo de mulheres que luta para ter um filho. A meta dos dois autores do estudo, o belga Peter Nagy, diretor científico do Centro de Reprodução Humana Roger Abdelmassih, e o especialista tcheco Jan Tesarik, é criar, pela primeira vez, uma técnica segura para o desenvolvimento de óvulos em laboratório a partir de células retiradas de outras partes do corpo da mulher. Hoje, centros sofisticados conseguem transformar células primordiais, aquelas ainda não amadurecidas do ovário, em óvulos. “O novo estudo, se for confirmado cientificamente, permitirá que mulheres sem óvulos ou células primordiais possam ter células reprodutoras”, explica Peter Nagy.

As células do corpo humano possuem núcleo diplóide, ou seja, com 46 cromossomos. Esta carga é formada pela combinação das características da mãe e do pai. As únicas exceções são o óvulo e o espermatozóide, que possuem núcleos haplóides, com 23 cromossomos. As experiências com vacas são realizadas com o apoio do veterinário José Antônio Vizentin, da Universidade de São Paulo (USP). Uma célula normal, com carga genética de 46 cromossomos, é retirada de uma parte do corpo da vaca que será a mãe. O núcleo desta célula é colocado no citoplasma (meio de nutrientes que sustenta o núcleo celular) de outro óvulo, tomado de uma vaca doadora.

Nagy no laboratório

Na segunda etapa, o núcleo com a carga da mãe divide-se em duas partes geneticamente idênticas, com 23 cromossomos. Uma das partes é aspirada do núcleo da célula com uma microagulha, dando origem a um óvulo (leia quadro). Peter Nagy diz que obteve um embrião humano com a técnica. “Está congelado. Não foi implantado. Ainda falta muito para isso”, diz. “É preciso calma”, adverte o médico Roger Abdelmassih. A equipe promete implantar os 15 embriões nas vacas até o final de março. Se a gravidez se desenvolver sem problemas, os filhotes serão avaliados em 2002. Por enquanto, a ordem é esperar pelos primeiros bezerros.