O PT não vive sem polêmica. Depois do projeto econômico, a bola da vez é o publicitário Duda Mendonça. Apesar de o programa de tevê do partido, transmitido em junho, ter sido aplaudido, a idéia da contratação de Duda para a campanha de Lula em 2002 tira o sono de vários petistas. Muitos dos que torcem o nariz para Duda reconhecem a sua competência, mas apontam obstáculos, como a identificação de sua imagem com o malufismo. Outro foco de tensão é o fato de ele ter trabalhado para adversários do PT na eleição para os governos estaduais em 1998, como Antônio Brito (PMDB), derrotado por Olívio Dutra (PT) no Rio Grande do Sul, e Joaquim Roriz (PMDB), que venceu o petista Cristovam Buarque, no Distrito Federal.

Não é à toa que a discussão sobre o marketing político, tendo Duda no olho do furacão, agita o PT de Lula. A cúpula do partido está preocupada com a péssima imagem das gestões da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, e de Olívio Dutra. De vitrine, as duas administrações ameaçam transformar-se em vidraça. Por isso, Lula insiste em bancar um profissional de primeiro time, capaz de transformar o medo do eleitorado em esperança e votos. Em reunião com colaboradores próximos, Lula deixou claro que não quer cometer os mesmos erros do passado. Chegou a dizer que desta vez é preciso fazer campanha com um jatinho e um bom marqueteiro. Um dos mais contrariados com a presença de Duda no quartel general do PT é Cristovam Buarque. “Não me incomoda o fato de ele ter trabalhado para Joaquim Roriz. O que me incomoda é que ele fez jogo baixo, distorcendo minhas frases e imagens nos programas eleitorais. Não nego sua competência técnica, mas Goebbels também era competente”, protestou, referindo-se ao ministro da Propaganda de Adolph Hitler.

Cristovam lembra que uma frase sua foi deturpada no programa eleitoral. “Eu disse que não queria ser o governador dos pobres ou dos ricos, mas o governador da família brasiliense. Eles colocaram um ponto depois da palavra pobres”, relatou. Outro episódio foram as imagens do conflito entre PMs e invasores de uma área pública às margens da Via Estrutural, durante a gestão de Cristovam. “Fizeram uma edição manipulada, para dar a impressão de que houve violência maior do que de fato ocorrera”, recordou. Duda – que no momento faz a campanha para o argentino Eduardo Duhalde, candidato ao Senado pelo Partido Justicialista – explica que em 1998 delegou a publicitários de sua empresa a tarefa de coordenar as campanhas em vários pontos do País. Foi o caso do DF. “Se houve manipulação, não vi porque eu não estava em Brasília. Não me eximo da responsabilidade. A empresa era minha, mas não trabalho assim”, justificou-se.

Uma das características do publicitário baiano é nunca passar despercebido por onde trabalha. Polêmico e superexposto na mídia, Duda tornou-se o centro dos debates do processo de eleição direta para presidente nacional do PT, que tem seis concorrentes. O dirigente gaúcho Júlio Quadros diz que a história de Duda se confunde com a de políticos conservadores. “Há muita resistência no PT contra ele. Faz um show business que não combina conosco”, atacou. O vereador José Fortunati (RS), outro candidato, também prefere ver Duda longe do PT. “Ele é um dos papas do marketing no País. Mas não tem afinidade filosófica com o PT”, opinou. Lembrando que elegeu petistas como o governador do Acre, Jorge Viana, e os deputados federais José Genoíno e Aloízio Mercadante, Duda se defende: “Minha história é a de um homem de esquerda. Fui militante estudantil. Tive irmãos e amigos presos e torturados durante a ditadura militar. Como profissional trabalhei com outros candidatos, mas o carimbo que ficou foi o de Maluf.”

Mas nem todos os petistas o crucificam. É o caso do secretário-geral do partido, o deputado federal Geraldo Magela (DF): “Quando mandamos imprimir cartazes de campanha, não perguntamos se o dono da gráfica vota no PT.” Outro que o aplaude é o secretário de Comunicação da Prefeitura de São Paulo, Valdemir Garreta: “Lula fez uma excelente escolha. Duda é muito competente.” O publicitário já sabia que pisaria em terreno minado ao aproximar-se do PT. Por isso, usa toda a sua diplomacia: “Nunca tive a pretensão de ser unanimidade. Nem o Lula é. Esse processo é democrático. Isso é o PT.” Terceiro vice-presidente do PT, Valter Pomar afirma que uma eventual contratação de Duda terá que ser votada. “O Duda é que precisa do PT para limpar sua imagem. É pouco prudente colocar na campanha do PT em 2002 alguém que foi tão próximo de Maluf, um político cujas contas no Exterior estão sendo investigadas”, opinou Pomar.

Sobre a possibilidade de ser alvo de denúncias, Duda diz que já viu esse filme. “Em 1994, quando eu queria trabalhar para o Lula, a Receita vasculhou tudo na minha empresa. Me pediram todos os comprovantes de renda. Apresentei até os recibos de pagamento de pensão feitos para minha ex-mulher”, contou. A segunda vez foi quando, já rompido com o ex-prefeito Celso Pitta, sua empresa foi alvo de três auditorias. Se Duda conseguiu livrar-se do abacaxi malufista, agora está tendo que encarar o pepino petista.