Independentemente do horizonte econômico que ameaça fazer de 2015 um período assustador, o ano que se inicia apresenta condições favoráveis para se transformar em meses de enorme amadurecimento democrático. Isso desde que as lideranças políticas se mostrem capazes de serem regidas pelas boas normas republicanas. As manifestações populares – fortes em 2013 – e o apertado resultado eleitoral de 2014 indicam que o PT perdeu a primazia das ruas e a inserção no movimento social agora também faz efetivamente parte da agenda oposicionista. Um movimento novo, pois desde que passou a ocupar o posto da situação, em janeiro de 2003, o partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva jamais enfrentou uma oposição como a que se desenha para os próximos quatro anos. Liderados por Aécio Neves, os oposicionistas saíram fortes das urnas, conseguiram aglutinar quase metade do eleitorado e dão sinais de que planejam continuar a construir um projeto de poder alternativo em sintonia com a sociedade. O próprio Aécio já declarou que pretende correr o Brasil dialogando com sindicatos e organizações populares.

No Congresso, apesar do amplo leque de apoio ao governo, a presidente Dilma Rousseff não deverá encontrar facilidades. Diante desse cenário, dois caminhos se colocam à frente de nossos líderes, tanto da oposição como da situação. O mais fácil é o de continuar remando como se fez até aqui. O governo ignora tudo o que disse durante a disputa eleitoral, adota a explícita política do toma lá da cá para reunir apoios sempre que precisa aprovar alguma medida, loteia a administração pública e acusa a oposição de promover um golpista terceiro turno eleitoral todas as vezes em que se vê acuado. E a oposição apenas esperneia com discursos cada vez mais adjetivados e com pouco conteúdo. O outro caminho leva a um Brasil melhor. Cabe à oposição fiscalizar o governo e, principalmente, apresentar projetos alternativos que estejam afinados com os anseios da sociedade. É papel do governo procurar impor suas demandas pela força do diálogo com todos os setores, defender seus planos com argumentos – e não com meras promessas de cargos – e buscar a convergência. Esse é o caminho que leva ao amadurecimento democrático, ao surgimento de novos líderes e à construção de um país mais igualitário, independentemente dos entraves econômicos que se colocam no horizonte. Os primeiros movimentos do governo, porém, não parecem animadores. A escalação do Ministério indica muito mais uma opção pelo arcaico fisiologismo do que pelas práticas prometidas durante a campanha. Mas o ano está apenas iniciando e se ao menos a oposição fizer a sua parte poderá até trazer a situação para um jogo político mais produtivo e maduro.