A internet está na UTI. O século XXI começou marcado por falências e demissões em massa nas empresas pontocom do Brasil e do mundo, comprovando a tese de que a euforia da rede mundial era mesmo uma bolha. Ela explodiu e deixou atônita uma multidão de profissionais que, assim como na corrida do ouro, apostou tudo na expectativa de enriquecimento rápido. Em vez dos salários vultosos e da ascensão meteórica na carreira, o que se viu foi o ouro de tolo: cortes na folha de pagamento, excesso de trabalho e muito desânimo com a chamada nova economia. Passada a tormenta, espera-se que agora reine a calmaria, já que ainda há muita luz no fim da fibra óptica.

De acordo com o site Webmergers.com, especializado em fusões e aquisições da nova economia, pelo menos 210 empresas de internet desligaram seus computadores para sempre em 2000. Quase dois terços das falências ocorreram a partir de novembro passado, num movimento que ainda não terminou. Nos primeiros dois meses do novo milênio, empresas virtuais como CNN.com, Altavista, AOL Time Warner, El Sitio, WalMart.com, 3Com e Amazon ceifaram o quadro de funcionários. No Brasil, a situação não foi diferente. Planeta Imóvel, UOL, Cidade Internet, iG, Submarino, E-ritmo, Estadão.com, Elefante, Guia Local e Arremate também aderiram à degola. Resultado: cerca de 300 novos desempregados. Segundo a consultoria americana de recolocação profissional Challenger, Gray & Christmans, no mundo todo houve 12.828 demissões só em janeiro. Significa quase um terço do total de cortes ocorridos durante o ano de 2000.

As causas da explosão da bolha são várias, mas a principal delas foi a forma como a maior parte das empresas começou seu negócio. O mercado era promissor, e por isso as companhias nasceram com grande infra-estrutura, polpudas verbas de marketing, salários altíssimos e pensamento fixo na oferta pública de ações nas Bolsas de Valores. Esqueceram-se de um princípio básico para o sucesso de qualquer empresa, seja da nova, seja da velha economia: o lucro. “A internet de hoje lembra as pirâmides ou as correntes de dinheiro, em que pouquíssimas pessoas lucram”, diz o investidor Pedro Mello, fundador da InternetCo Investments. Sua verba anual de US$ 5 milhões é reservada para alavancar operações de empresas que nascem pequenas, com folha de pagamento enxuta. Só recebe mais dinheiro quem tiver bons resultados no fim do mês.

Ricardo Giraldez

Clayton trabalhava pelo menos 12 horas por dia

“A internet era um negócio de empreendedores individuais que ganharam muito dinheiro nos primórdios, mas isso acabou”, afirma Silvio Genesini, sócio-diretor da consultoria Accenture, antiga Andersen Consulting. “Agora os empreendimentos terão que estar associados a grandes bancos, grupos de mídia ou de telecomunicações”, completa. Foi-se o tempo em que alguém montava um site para depois revendê-lo por somas milionárias. O empreendedor carioca Jack London criou em 1996 a primeira livraria virtual brasileira, a Booknet. Três anos depois, passou adiante a empresa para um fundo de investimentos ligado ao grupo GP. O valor da negociação ficou em segredo, mas foi suficiente para London montar outros quatro sites, entre eles o de leilões online Valeu. “Primeiro vivemos a fase da inovação e dos riscos, depois veio a excitação do mercado e este ano será de extrema crise”, prevê Jack London.