07/03/2001 - 10:00
A internet está na UTI. O século XXI começou marcado por falências e demissões em massa nas empresas pontocom do Brasil e do mundo, comprovando a tese de que a euforia da rede mundial era mesmo uma bolha. Ela explodiu e deixou atônita uma multidão de profissionais que, assim como na corrida do ouro, apostou tudo na expectativa de enriquecimento rápido. Em vez dos salários vultosos e da ascensão meteórica na carreira, o que se viu foi o ouro de tolo: cortes na folha de pagamento, excesso de trabalho e muito desânimo com a chamada nova economia. Passada a tormenta, espera-se que agora reine a calmaria, já que ainda há muita luz no fim da fibra óptica.
De acordo com o site Webmergers.com, especializado em fusões e aquisições da nova economia, pelo menos 210 empresas de internet desligaram seus computadores para sempre em 2000. Quase dois terços das falências ocorreram a partir de novembro passado, num movimento que ainda não terminou. Nos primeiros dois meses do novo milênio, empresas virtuais como CNN.com, Altavista, AOL Time Warner, El Sitio, WalMart.com, 3Com e Amazon ceifaram o quadro de funcionários. No Brasil, a situação não foi diferente. Planeta Imóvel, UOL, Cidade Internet, iG, Submarino, E-ritmo, Estadão.com, Elefante, Guia Local e Arremate também aderiram à degola. Resultado: cerca de 300 novos desempregados. Segundo a consultoria americana de recolocação profissional Challenger, Gray & Christmans, no mundo todo houve 12.828 demissões só em janeiro. Significa quase um terço do total de cortes ocorridos durante o ano de 2000.
As causas da explosão da bolha são várias, mas a principal delas foi a forma como a maior parte das empresas começou seu negócio. O mercado era promissor, e por isso as companhias nasceram com grande infra-estrutura, polpudas verbas de marketing, salários altíssimos e pensamento fixo na oferta pública de ações nas Bolsas de Valores. Esqueceram-se de um princípio básico para o sucesso de qualquer empresa, seja da nova, seja da velha economia: o lucro. “A internet de hoje lembra as pirâmides ou as correntes de dinheiro, em que pouquíssimas pessoas lucram”, diz o investidor Pedro Mello, fundador da InternetCo Investments. Sua verba anual de US$ 5 milhões é reservada para alavancar operações de empresas que nascem pequenas, com folha de pagamento enxuta. Só recebe mais dinheiro quem tiver bons resultados no fim do mês.
Ricardo Giraldez | |
Clayton trabalhava pelo menos 12 horas por dia |
“A internet era um negócio de empreendedores individuais que ganharam muito dinheiro nos primórdios, mas isso acabou”, afirma Silvio Genesini, sócio-diretor da consultoria Accenture, antiga Andersen Consulting. “Agora os empreendimentos terão que estar associados a grandes bancos, grupos de mídia ou de telecomunicações”, completa. Foi-se o tempo em que alguém montava um site para depois revendê-lo por somas milionárias. O empreendedor carioca Jack London criou em 1996 a primeira livraria virtual brasileira, a Booknet. Três anos depois, passou adiante a empresa para um fundo de investimentos ligado ao grupo GP. O valor da negociação ficou em segredo, mas foi suficiente para London montar outros quatro sites, entre eles o de leilões online Valeu. “Primeiro vivemos a fase da inovação e dos riscos, depois veio a excitação do mercado e este ano será de extrema crise”, prevê Jack London.