07/03/2001 - 10:00
A trajetória ladeira abaixo do senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) parece não ter fim. Depois de amargar a maior derrota de sua vida na eleição do Senado, levar o PFL à bancarrota e perder dois ministérios no governo (Previdência e Minas e Energia), o senador não está livre de ser cassado por quebra de decoro parlamentar. Seu alívio com o recuo dos partidos de oposição no pedido de cassação do seu mandato, na manhã de quarta-feira 28, durou até a visita de técnicos da Universidade de Campinas (Unicamp) ao Senado. Isso porque eles constataram que o painel eletrônico de votações pode ter sido violado. Conforme publicou ISTOÉ na última edição, ACM confessou aos procuradores da República Luiz Francisco de Souza, Guilherme Schelb e Eliana Torelly que guarda uma lista com o voto secreto dos senadores na sessão que cassou o mandato do senador Luiz Estevão, o que significaria que houve violação no programa-mãe do painel. Representantes de todos os partidos vão acompanhar a investigação dos peritos. “Quero evitar que se diga que houve qualquer postura tendenciosa na apuração”, explicou o presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA).
“Não quero que digam que houve postura tendenciosa na apuração” Jader Barbalho |
Outras evidências aumentam as suspeitas em torno do crime. Um mês antes da votação secreta que cassou Luiz Estevão, em junho de 2000, o Senado rompeu o contrato com a empresa Kopp Companhia Ltda., responsável pela implantação e manutenção do sistema eletrônico. Funcionários do Senado contam que a empresa foi comunicada, sem explicações, de que, a partir de 15 de maio, não prestaria mais serviços à instituição. Em caráter de urgência e sem licitação, foi contratada a Panavídeo Tecnologia Eletrônica. Acusada por ACM de ter votado a favor de Luiz Estevão, a senadora Heloísa Helena (PT-AL) não descarta a hipótese de que seu voto possa ter sido alterado. “Tenho recebido informações de especialistas em informática que dizem que isso é possível”, disse a senadora, garantindo que votou contra Luiz Estevão.
Na próxima terça-feira 6, ela vai exigir explicações de ACM no plenário, além de pedir uma acareação do senador com o procurador Luiz Francisco. “Entre a palavra desse pusilânime e a do procurador, eu fico com a do procurador. Mas tenho certeza de que na hora certa os restos mortais dessas fitas vão aparecer e vamos ter a prova de que precisamos para pedir sua cassação”, afirmou a senadora. Apesar de sua fúria, o PT decidiu concentrar esforços na instalação de uma CPI para apurar denúncias de corrupção no governo FHC, desistindo de tentar cassar o mandato de ACM. De Miami (EUA), onde passou o Carnaval, ACM tentou acertar o acordo com o PT, anunciando que vai assinar o pedido de CPI, cujo principal alvo é o ex-secretário-geral da Presidência Eduardo Jorge Caldas. Aos procuradores, ACM disse que impediu as apurações sobre Eduardo Jorge no Senado, a serviço do governo.