A trajetória ladeira abaixo do senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) parece não ter fim. Depois de amargar a maior derrota de sua vida na eleição do Senado, levar o PFL à bancarrota e perder dois ministérios no governo (Previdência e Minas e Energia), o senador não está livre de ser cassado por quebra de decoro parlamentar. Seu alívio com o recuo dos partidos de oposição no pedido de cassação do seu mandato, na manhã de quarta-feira 28, durou até a visita de técnicos da Universidade de Campinas (Unicamp) ao Senado. Isso porque eles constataram que o painel eletrônico de votações pode ter sido violado. Conforme publicou ISTOÉ na última edição, ACM confessou aos procuradores da República Luiz Francisco de Souza, Guilherme Schelb e Eliana Torelly que guarda uma lista com o voto secreto dos senadores na sessão que cassou o mandato do senador Luiz Estevão, o que significaria que houve violação no programa-mãe do painel. Representantes de todos os partidos vão acompanhar a investigação dos peritos. “Quero evitar que se diga que houve qualquer postura tendenciosa na apuração”, explicou o presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA).

“Não quero que digam que houve postura tendenciosa na apuração”
Jader Barbalho

Outras evidências aumentam as suspeitas em torno do crime. Um mês antes da votação secreta que cassou Luiz Estevão, em junho de 2000, o Senado rompeu o contrato com a empresa Kopp Companhia Ltda., responsável pela implantação e manutenção do sistema eletrônico. Funcionários do Senado contam que a empresa foi comunicada, sem explicações, de que, a partir de 15 de maio, não prestaria mais serviços à instituição. Em caráter de urgência e sem licitação, foi contratada a Panavídeo Tecnologia Eletrônica. Acusada por ACM de ter votado a favor de Luiz Estevão, a senadora Heloísa Helena (PT-AL) não descarta a hipótese de que seu voto possa ter sido alterado. “Tenho recebido informações de especialistas em informática que dizem que isso é possível”, disse a senadora, garantindo que votou contra Luiz Estevão.

Na próxima terça-feira 6, ela vai exigir explicações de ACM no plenário, além de pedir uma acareação do senador com o procurador Luiz Francisco. “Entre a palavra desse pusilânime e a do procurador, eu fico com a do procurador. Mas tenho certeza de que na hora certa os restos mortais dessas fitas vão aparecer e vamos ter a prova de que precisamos para pedir sua cassação”, afirmou a senadora. Apesar de sua fúria, o PT decidiu concentrar esforços na instalação de uma CPI para apurar denúncias de corrupção no governo FHC, desistindo de tentar cassar o mandato de ACM. De Miami (EUA), onde passou o Carnaval, ACM tentou acertar o acordo com o PT, anunciando que vai assinar o pedido de CPI, cujo principal alvo é o ex-secretário-geral da Presidência Eduardo Jorge Caldas. Aos procuradores, ACM disse que impediu as apurações sobre Eduardo Jorge no Senado, a serviço do governo.