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CRISE
Mulher olha vitrine natalina em Moscou:
moeda desvalorizada e inflação em alta freiam os negócios
 

Em 1998, pouco depois do colapso político da União Soviética, a Rússia mergulhou em um caos econômico que resultou no desaparecimento de milhões de empregos, na desvalorização recorde do rublo e na moratória da dívida externa. O drama russo desencadeou uma recessão mundial, provocando estragos principalmente nos países emergentes. No Brasil, sob o governo FHC, a cotação do real despencou, as reservas caíram de US$ 60 bilhões para US$ 16 bilhões e os juros básicos dispararam para 45%. Na semana passada, a Rússia deu outro susto. Na terça-feira 16, o rublo chegou a se desvalorizar quase 30%. Como aconteceu no desmoronamento de 1998, os efeitos foram sentidos em diversas partes do mundo. No Brasil, o dólar alcançou R$ 2,76, a maior cotação desde março de 2005, e o fantasma da fuga de investidores estrangeiros voltou a assombrar os agentes financeiros.

O desastre do passado pode se repetir? Em primeiro lugar, é preciso comparar os dois períodos. Como em 1998, o preço baixo do barril do petróleo vem provocando estragos na economia russa, que tem metade de seu orçamento associada às vendas do combustível. Há 16 anos, o barril despencou para US$ 10 e não havia perspectivas de aumento significativo. Agora, o barril custa em torno de US$ 60, mas os prognósticos apontam para a alta de preços a partir do ano que vem. Os fundamentos econômicos da Rússia do século XXI também são mais consistentes. Se em 1998 a inflação anual era de 100%, hoje ela está na casa dos 10%. A Rússia pós-União Soviética mal sabia o que era economia de mercado e agora dispõe de um meio empresarial forte e influente.  No cenário externo, há semelhanças. Em 1998, o país enfrentava a retomada dos confrontos na Chechênia e a iminência de uma nova guerra entre separatistas e o governo russo. No contexto atual, o governo do presidente Vladimir Putin sofre as consequências das sanções da Europa e dos Estados Unidos por causa da intervenção militar na Ucrânia, sanções essas que geram perdas anuais de US$ 40 bilhões por ano.

Muito se especulou sobre os impactos para economia brasileira. É impossível cravar o que virá, mas o risco do contágio financeiro é menor. O Brasil soma US$ 375 bilhões em reservas internacionais – mais do que suficientes para assegurar alguma tranquilidade mesmo diante das notícias negativas de Moscou. Pouco depois da sangria do rublo, Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, anunciou que a instituição manterá os leilões cambiais para proteger o real, que em 2014 sofreu forte depreciação perante o dólar. A economia brasileira é diferente hoje do que era 16 anos atrás, mas também é verdade que o País precisa de ajustes para voltar a crescer. Num cenário já complicado, a crise na Rússia amplifica os desafios que virão pela frente.

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PREÇO
Em Moscou, painel mostra a queda do
rublo: a moeda chegou a cair 30% em um dia

Fotos: Pavel Golovkin/AP; YURI KADOBNOV/AFP

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