Já virou lugar-comum falar em qualidade de vida. A todo momento, médicos indicam o que é preciso fazer para se sentir bem. Mas, na prática, poucos seguem os conselhos. Levante a mão quem nunca fez uma lista de coisas a cumprir a partir do ano novo, como frequentar a academia. Se o projeto fica apenas na intenção, a falta de tempo é a justificativa. Na opinião dos especialistas, a desculpa é usada por quem deseja se acomodar, pois é possível sim adotar um estilo de vida saudável. E não é preciso fazer mudanças radicais. Viver à base de folhas verdes e grelhados ou passar horas suando até perder o fôlego nem sempre é a solução. Foi o que mostrou a primeira experiência do programa Qualidade de Vida do Instituto do Coração (Incor), de São Paulo, realizada no final de semana passado em São Roque (SP). O projeto ensina dicas simples que devem ser praticadas no dia-a-dia para aliviar a tensão e trazer mais equilíbrio físico e mental à pessoa. Elas podem ser desfrutadas por qualquer um. Algumas orientações indicadas para momentos estressantes são apertar uma bolinha de borracha na mão para relaxar os músculos, massagear a sola do pé do centro para a ponta e inspirar e expirar lentamente para acalmar os nervos. “Também é preciso desenvolver atividades simplórias que despertem o prazer, como ouvir música, fazer pequenas pausas para relaxar, praticar alguma atividade física e ter uma alimentação rica em frutas e verduras”, ensina o fisiologista Carlos Eduardo Negrão, coordenador do programa que também conta com o apoio da Fundação Zerbini (SP). “Assim é possível prevenir doenças cardiovasculares, associadas ao consumo de gordura animal, por exemplo”, garante.

O programa do Incor é dividido em duas etapas. Na primeira, os participantes passam por um check-up clínico, que avalia a capacidade física, o risco cardíaco, a qualidade da dieta e o nível de stress. Também são feitos exames para medir taxas de colesterol e triglicérides. Com os resultados em mãos, a equipe multidisplinar do projeto – composta de nutricionista, cardiologista, professor de educação física e psicóloga – monta um esquema de trabalho para cada caso. E aí começa a segunda parte, colocada em prática num hotel cercado de montanhas e de muito verde, o Villa Rossa, em São Roque. Essa fase do projeto foi experimentada na semana passada por um grupo integrado por diferentes profissionais. Faziam parte da lista, por exemplo, o deputado estadual Walter Feldmann (presidente da Assembléia Legislativa de São Paulo), o construtor Roberto Chapchap, o cardiologista Sérgio de Oliveira e o presidente do Incor, José Ramires.

No primeiro dia, os participantes estavam apreensivos. Eles achavam que teriam de seguir uma dieta supercontrolada. Enganaram-se. “Não adianta submeter a pessoa em poucos dias a uma alimentação rígida, se depois ela não for segui-la”, disse a nutricionista Márcia Gowdak. Por isso, o certo é conscientizá-la da necessidade de mudança de hábitos. Uma das recomendações, por exemplo, é não exagerar no jantar, pois o organismo não gasta tanta energia, a gordura se acumula e o peso aumenta. Para queimar as calorias, nada melhor do que uma caminhada. Essa e outras atividades físicas são orientadas depois que é feito exame de frequência cardíaca. Desse modo, é possível controlar a intensidade correta dos exercícios.

O programa contém também métodos de relaxamento de fácil execução, que podem ser feitos no local de trabalho. Basta alongar-se. “Essas técnicas diminuem a tensão porque relaxam a musculatura”, afirma o professor de educação física Eduardo Rondon. “São ensinamentos simples que você pode praticar sem a ajuda de um personal trainner”, diz Chapchap, 63 anos, que pretende seguir os conselhos junto com a mulher, Isabel, 57 anos. Outra orientação é manter atividades prazerosas. Pode ser escutar uma música, ler uma revista ou tomar banho com óleos essenciais. Para Walter Feldmann, 47 anos, a sugestão faz sentido. “É muito mais fácil praticar aquilo que se gosta”, acredita. Na opinião da psicóloga Maria Rebecca Campos, o ser humano precisa resgatar o prazer. “Por causa das obrigações, o adulto às vezes nem se lembra do que lhe faz bem e vai perdendo a capacidade de brincar”, observa. Sendo assim, nada melhor do que colocar todo mundo para se divertir como criança. Os participantes se requebraram para fazer exercícios com um bambolê. Feldmann divertiu-se ao escorregar pela grama. Ao final do programa, eles já não tinham a mesma imagem da chegada. Nem de longe pareciam preocupados ou tensos. A seriedade deu lugar a boas gargalhadas.

Para entrar nesse programa é preciso reservar cerca de R$ 3 mil, custo do pacote com a hospedagem. É uma alternativa para VIP. Mais informações pelo número (11) 3038-5350.