O Rally Internacional dos Sertões fechou sua nona edição, na sexta-feira 20, em Fortaleza, consagrado como uma importante prova do calendário off-road mundial. A disputa brasileira começa a ser equiparada à de Córdoba, na Argentina, a mais tradicional da América Latina. Não é para menos. Em 13 dias, 86 carros, 41 motos, quatro caminhões e um quadriciclo percorreram 5.250 quilômetros, ou quase 13 vezes a distância entre o Rio de Janeiro e São Paulo. Cortaram sete Estados: São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Maranhão, Piauí e Ceará. Pilotos e navegadores profissionais enfrentaram buracos, riachos, atoleiros, mata-burros, poeira, panes mecânicas e elétricas e, sobretudo, a fúria dos adversários. Mas existe um grupo de aventureiros privilegiados que não encara circuitos como esse em busca de competição ou de recordes. Para eles, o objetivo é fazer o trajeto com tempo para apreciar a beleza das paisagens e conhecer a cultura e os hábitos de cada região. Procuram, antes de tudo, divertimento e prazer.

Neste ano, as 12 equipes que aceitaram esse desafio foram acompanhadas pela reportagem de ISTOÉ. A dos catarinenses Marcos e Luciana Daufenbach deu apoio extra-oficial à equipe de um amigo na competição oficial. O que mais chamava a atenção no Land Rover Defender 90 da dupla era, no entanto, a “mascote” da competição: Ana Beatriz, dois anos e oito meses, filha do casal. “Adorei participar”, vibra Luciana. “Enquanto os pilotos corriam para fazer o menor tempo, ficávamos comendo, bebendo, conversando e brincando com a Ana. O apoio não-oficial foi só um pretexto para a diversão”, completa ela. Muitos não teriam coragem de levar uma criança a uma competição tão dura. Mas, a julgar pelo comportamento da pequena Ana, os pais parecem ter acertado na decisão. “O carro está protegido e não fazemos manobras violentas. Nos sentimos seguros e Ana está muito feliz. Todos comprovam isso”, afirma Luciana. “Ontem, ela disse que não quer mais voltar para casa”, diverte-se o pai. A preocupação com a segurança deve mesmo ser uma marca de competições como essa. Na quinta-feira 12, o repórter cinematográfico Fernando Florêncio, 28 anos, da TVE do Rio de Janeiro, caiu no Rio Balsas, em Ponte Alta do Tocantins, e morreu afogado. Na terça-feira 17, um motociclista e seu carona morreram num acidente com um carro de apoio do rali numa rodovia estadual do Maranhão, entre as cidades de Fortaleza dos Nogueiras e Grajaú.

Apesar do espírito romântico, a empreitada não custa pouco. Na Expedition, a categoria dos aventureiros, o primeiro requisito é ter um carro com tração nas quatro rodas. O kit de inscrição, com o transporte do veículo de volta a São Paulo e uma passagem de retorno, sai por R$ 4.200. Ao contrário da categoria oficial, a Expedition permite que mais de duas pessoas ocupem um carro. Mas todas as passagens aéreas além da incluída no kit de inscrição ficam por conta da equipe. Além disso, existem despesas de combustível, hospedagem e alimentação nos 13 dias de prova e no sábado 21, reservado para a festa de premiação, em Fortaleza. Para uma equipe de três pessoas, essa parte custa pelo menos R$ 2.500. Tudo somado, um trio de participantes não gasta menos de R$ 10 mil no rali, sem contar o custo do carro.

O tamanho da conta não desanimou a gerente de informática paulistana Sylvia Coral. Ela se surpreendeu com o grau de dificuldade da viagem. “Estou me divertindo e conhecendo novos lugares, mas confesso que me assustei. Nossa equipe se perdeu na Serra da Canastra, em Minas. Chegamos no acampamento às duas da manhã”, conta ela, ainda pálida por causa de uma manobra radical, feita minutos antes para salvar a pele de um imenso cavalo que atravessara sua trilha, em Alto Paraíso (GO). Apesar da notável falta de intimidade com o volante, Sylvia chegou ao quarto dia de rali com apenas dois pneus furados, um saldo considerado positivo.