Alex Soletto

São 9h30 da terça-feira 6 e a empresária da noite Lilian Gonçalves surge saltitante no alto da escada de seu escritório aboletado no andar de cima da matriz do Espetinho Cerveja & Cia., no bairro de Santa Cecília, zona central de São Paulo, um dos sete bares e restaurantes que ela mantém em funcionamento na capital paulista. Nem parece que a também “atriz e cantora” havia dormido apenas duas horas. De calça comprida verde, sandálias de salto alto verdes, cintilando de strass, e uma blusa colante bordada com lantejoulas em vários tons de verde, a loira solta um largo sorriso branco com a disposição de quem desfrutou horas normais de sono. “Quanto menos eu durmo, melhor eu fico”, vai logo dizendo. “Estou no ar 20 horas por dia. Quatro horas de sono são mais que suficientes e ainda assim preciso tomar meio comprimidinho de Lexotan, porque não consigo apagar. Prefiro trabalhar 16 horas, assim só tenho oito para gastar.”

A filosofia típica de um Tio Patinhas de saias faz sentido. À frente de um complexo de diversão e comida, a “Rainha da Noite” – título dado há anos pela imprensa e incorporado sem o menor pudor – despacha há duas décadas do mesmo escritório, ausente de glamour e completamente diferente da sua personalidade esfuziante. O único detalhe que denuncia quem senta à frente da enorme mesa abarrotada de papéis, cercada de troféus, prateleiras armazenando bebidas, uma televisão ligada o tempo todo em silêncio e um circuito interno de tevê, é o enorme espelho de moldura dourada, é claro. “Adoro espelho, adoro brilho, adoro vida”, repete Lilian com o bom humor de rainha sem as preocupações inerentes ao poder político. Sua felicidade não se restringe à vaidade de reinar absoluta na noite paulistana. “Dentro de São Paulo não tem ninguém que administre sozinha como eu”, afirma. Todo final de ano, sorridente, a cidadã Lilian Gonçalves Lima fecha um faturamento de R$ 6 milhões. “Dinheiro na minha mão vira ouro.”

E como! Em 30 anos, desde que saiu de Brasília fugida da família, esta mineira de Garapuava já foi proprietária de 14 bares e restaurantes, dez deles funcionando ao mesmo tempo. “Nunca fui dona de boate, pelo amor de Deus, não tenho nada a ver com o submundo”, frisa. Hoje, comanda com pulso de ferro sete casas que empregam 375 funcionários e fazem rodar a média mensal de 84 mil cervejas, mil garrafas de uísque e cerca de 36 mil espetinhos, especialidade de dois de seus restaurantes. “O Chacrinha me chamava de latifundiária da noite. Nasci com a tendência de mexer com dinheiro e vim a São Paulo para vencer”, trombeteia. Vencer é um verbo que, numa conversa mais longa com Lilian, ouve-se pelo menos uma dezena de vezes. “Fiz a faculdade da vida, sou catedrática em todas as matérias. O único curso que não fiz foi o de perdedora.” Tamanha segurança, a então jovem mulher já mostrava quando chegou decidida em São Paulo. Nem bem desceu do ônibus na antiga rodoviária central e, de mala na mão, viu um restaurante com anúncio pedindo garçonetes. Deu sorte e conseguiu o emprego. “Eu, magrinha, cabelo liso, morena, um corpinho que era uma coisa, causei boa impressão”, conta a hoje loira Lilian, 45, 50 ou 52 anos, ninguém sabe ao certo.


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