Um livro sobre um ícone do boxe mundial deveria agradar somente aos fãs do pugilismo, certo? Errado. O rei do mundo, Muhammad Ali – a ascensão de um herói americano, de David Remnick (Companhia das Letras, 340 págs., R$ 32), é ótima leitura para qualquer pessoa. Até para quem odeia boxe, pois a figura do biografado transcende o esporte, o autor é um jornalista que escreve muito bem e a obra é ilustrada por belas fotos. Muhammad Ali nasceu Cassius Clay, em 1942, em Louisville, Estado americano de Kentucky. Era filho de classe média negra. Desde pequeno, chorava quase toda noite. Não entendia por que sua raça tinha de sofrer tanto. Dá para imaginar o que esse garoto faria, caso se tornasse um adulto famoso e rico. Remnick soube contar a história do intempestivo boxeador neto de escravos cuja obstinada determinação era jamais se dobrar diante de uma lei branca, de um conceito branco ou de um branco.

A transformação de Clay em Ali ocorreu em 1964, com o nome dado pela Nação do Islã, movimento negro de religião muçulmana. O auge da carreira de peso pesado foi em 1960, quando conquistou a medalha de ouro nas Olimpíadas de Roma. Sua mais dura luta, porém, aconteceu em 1967. Uma luta sem luvas, jabs ou cruzados contra o Exército americano. Ele se recusou a prestar o serviço militar e ir para a Guerra do Vietnã. Pela rebeldia teve o título cassado. Sobre o momento atual de Ali, nocauteado pelo mal de Parkinson, o jornalista fala rapidamente. Todo o livro é adrenalina pura, mostrando o clima de lutas fantásticas. A imprensa detestava as bravatas do pugilista. Mas tinha que se render ao campeão, dono do próprio nariz, que, aliás, ninguém achatou. No sítio-fazenda onde vive nos Estados Unidos, Muhammad Ali, sua mulher e alguns de seus nove filhos administram a empresa Goat, sigla de Greatest of All Times. Ou seja, O Maior de Todos os Tempos.


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