Na noite da quarta-feira 14, o presidente Fernando Henrique Cardoso reafirmou aos líderes do PMDB, Renan Calheiros (AL) e Geddel Vieira Lima (BA), que seu rompimento com o senador baiano Antônio Carlos Magalhães (PFL) é um caminho sem volta. Assegurou também que não vai aceitar a tentativa de ACM de moderar sua artilharia contra o governo em troca da manutenção de Firmino Sampaio na presidência da Eletrobras, um cargo poderoso e muito cobiçado que ganha mais importância com a agenda de privatização do setor elétrico. FHC deu como exemplo de que não estava acontecendo uma reaproximação com ACM a queda, horas antes, do presidente do Instituto Nacional de Seguridade Social, Crésio Rolim, um fiel pupilo do senador baiano. A tucanos e peemedebistas, Fernando Henrique ironizou a demissão de Rolim pelo novo ministro da Previdência, Roberto Brant, um aliado de Antônio Carlos: “Vejam vocês como esse PFL é vingativo.” A decisão presidencial de varrer o carlismo do governo federal enterrou de vez a barganha de ACM para ficar com seu naco de poder, que chegou a encontrar eco no Palácio do Planalto. O feudo que Antônio Carlos mantém no setor elétrico desde a ditadura militar finalmente acabou: Firmino Sampaio é carta fora do baralho e, na esteira de sua demissão, vão cair também todos os outros apadrinhados de ACM no governo.

O fato de auxiliares presidenciais terem gostado da proposta de trégua não agradou aos tucanos e nem à ala pefelista comandada pelo senador Jorge Bornhausen. No PMDB causou uma rebelião. “Esse movimento está sendo feito com a participação de dois ministros que trabalham para Antônio Carlos no Planalto”, disparou o presidente do Congresso, senador Jader Barbalho, em entrevista ao jornal Valor Econômico, na última segunda-feira. Foi um torpedo contra o ministro-chefe da Casa Civil, Pedro Parente, e o secretário-geral da Presidência, Aloysio Nunes. Jader estava irritado com a declaração de Roberto Brant de que poderia manter os pupilos de ACM na Previdência. Ele ameaçou romper com FHC e apoiar a criação de CPIs para investigar todos os escândalos no governo federal. Ao tornar público um recado que, dias antes, o partido havia dado reservadamente a Fernando Henrique, o presidente do Senado avançou o sinal e assustou colegas do comando do partido. Antes mesmo de as declarações serem publicadas, os bombeiros peemedebistas entraram em campo e informaram ao presidente de que se tratava apenas de um desabafo. Em almoço no dia seguinte, na casa do líder Geddel Vieira Lima, a cúpula do partido censurou Jader e o fez reconhecer que esse tipo de manifestação parece com o que Antônio Carlos cansou de fazer em seus quatro anos na presidência do Senado.