Renato Velasco

Franz Weissmann andou pensativo, cabisbaixo, mais circunspecto do que o habitual. Seus familiares estranharam e logo pensaram se tratar de algum problema de saúde. Dizia estar pensando em aposentadoria. “Mas para fazer o quê?”, perguntaram em coro. “Ter mais tempo para esculpir”, reagiu o escultor austríaco naturalizado brasileiro, que em setembro completa 90 anos. Na verdade, ele se queixava do cansaço de ter de lidar com a produção e a burocracia envolvendo a montagem de suas exposições. Mas com vigor invejável e saúde nem tanto — ele sofre de enfisema pulmonar e ainda assim fuma quase dois maços de cigarro por dia —, Weissmann inaugura na segunda-feira 19 uma exposição na Casa França-Brasil, no Rio de Janeiro, com 16 peças, 12 delas inéditas. São obras monumentais em aço, dispostas sem cronologia ou legendas.

Renato Velasco
Weissmann e a escultura Construção em triângulos (no alto): namoro escondido e tempo para o trabalho

O que mais impressiona é o equilíbrio de esculturas, como a imensa Construção em triângulos, que mede 3m15, pesa 1,4 tonelada e pode ser ludicamente atravessada. A atual mostra reúne esboços esquecidos por décadas e uma grande maioria de obras criadas neste ano. “Sou um operário”, define-se Weissmann com seu sotaque carregado, surpreendente para alguém que desembarcou no Brasil aos dez anos — seu pai Karl era militante da social-democracia em Knittelfeld, sua cidade natal. Para chegar às esculturas monumentais, o artista produz em casa esboços cuidadosamente recortados em papelão. Por muitos anos, a execução em aço foi realizada na montadora de seu irmão Fritz. Desta vez, as peças da exposição ganharam forma numa siderúrgica de São Paulo, que executou com perfeição os intricados trabalhos cheios de dobradiças, os quais, na montagem no Rio, exigiram um time de soldadores, torneiros-mecânicos e pintores. “Tudo nasce da minha intuição. Não há explicações intelectuais”, esclarece o escultor.

Nome de talento respeitado no mercado, suas obras hoje variam entre R$ 40 mil a R$ 60 mil. É a consagração de um autodidata que estudou arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes, participou do Grupo Frente junto com Lygia Clark e Ivan Serpa, entre outros, morou na Europa na década de 60 e voltou ao Brasil para participar da VIII Bienal Internacional de São Paulo, em 1965. Daí em diante, a carreira foi de vento em popa. Casou-se duas vezes, teve dois filhos e namora sempre. “Escondido”, conta, com jeito maroto. Sua vitalidade talvez venha das sistemáticas caminhadas diárias de duas horas no calçadão de Ipanema, zona sul carioca, onde mora. Ele já se safou de quatro acidentes rodoviários e curou uma úlcera, um câncer e uma pneumonia. Não à toa, sempre que pode, Franz Weissmann louva seu incansável anjo da guarda.