Fotos: Phillip V. Caruso/Century Fox
De Niro e Gooding, Jr.: a exuberância do veterano ofuscando o protagonista

Numa carreira basicamente dirigida aos filhos dos Estados Unidos legitimados pela tradição das famílias brancas, o negro Carl Brashear realizou feitos espetaculares. Nos anos 50, conseguiu ser o primeiro mergulhador afro-americano da Marinha e, mais tarde, se aposentou no posto mais alto, ostentando os títulos de Master Dive e Master Chief, mesmo após a amputação de uma das pernas, ferida num acidente submarino. A história deste verdadeiro herói, que agora chega às telas sob o título de Homens de honra (Men of honor, Estados Unidos, 2000), cartaz nacional na sexta-feira 23, por si só justificaria uma ida ao cinema. Afinal, tem como protagonista Cuba Gooding, Jr., Oscar de melhor ator coadjuvante em Jerry Mcguire – a grande virada, e reproduz a ação de mergulhadores a dezenas de metros de profundidade em cenas de literalmente tirar o fôlego.

Apesar destes trunfos, o diretor George Tillman, Jr. decidiu criar um personagem para fazer contraponto a Brashear. Errou na intenção, pois escolheu Robert De Niro para interpretar o oficial Billy Sunday. Como De Niro nunca brinca de atuar, ele simplesmente desviou todas as luzes do personagem principal. Com um fictício Sunday no páreo, a história ganhou contornos novelescos, mostrando um Brashear ainda recruta — recém-chegado da fazenda miserável em Kentucky, onde foi criado — testemunhar o acidente que tirou o oficial da ativa. Mas como a fibra americana deve predominar acima de tudo, há uma reviravolta no enredo. Não sem antes fazer aflorar o ódio de Sunday contra a hierarquia, trama paralela que praticamente conduz o filme sem fazer jus à realidade heróica de Carl Brashear e sem permitir que Cuba Gooding, Jr. sequer respire em cena.