Querer se enturmar no sedutor circo do rock’n’roll é um sonho de qualquer jovem. Ainda mais se ele tem pretensões a ser jornalista da área musical. Daí, poder conviver com seus ídolos, ambicionando escrever uma bela reportagem sobre eles, pode se tornar uma obsessão perigosa, mas frutífera. William Miller era um garoto que como muitos amava os Beatles e os Rolling Stones e o Led Zeppelin e The Who e … Sortudo, em 1973 o semifedelho de 15 anos é convidado a fazer uma matéria sobre a banda em ascensão Stillwater para a revista Rolling Stone, que nos anos mais esfuziantes do rock era a principal fonte de referência. Ele só não imaginava quão veloz seria seu amadurecimento depois desta empreitada que sustenta o enredo de Quase famosos (Almost famous, Estados Unidos, 2000), estréia nacional na sexta-feira 23. Fã incondicional do ritmo, o diretor Cameron Crowe viveu experiência semelhante. Até tornou-se jornalista de rock para a mesma revista, aos 16 anos. Mesmo assim, ele não quer atribuir ao seu filme toques autobiográficos. Não importa. O foco principal está na angústia do adolescente Miller — interpretado por Patrick Fugit —, que, como o próprio Crowe coloca, depois de conseguir um lugar na primeira fila daquela feira de vaidades e música, vê seu mundo de emoções titubeantes virar de ponta-cabeça.

Visto totalmente sob o prisma de Miller, Quase famosos explora os bastidores do show business, a guerra de egos e os caminhos árduos, desgastantes e gratificantes da fama. Parece um tema fascinante. E é. Mas Cameron Crowe não soube desatar os nós de uma história nada fácil de contar pela complexidade em não se render a clichês nem a tudo que foi dito e mostrado sobre a época em questão. Exatamente por querer fazer o oposto, o cineasta caiu numa chateação psico-intelectual desperdiçando, inclusive, um bom elenco que, além de Fugit, traz Billy Crudup como o guitarrista Russel Hammond e Kate Hudson no papel da sofrida tiete Penny Lane.