i67178.jpgPor que você bebe? Essa é uma das perguntas mais perenes da humanidade e dá margem a respostas que vão do ineditismo à malcriação. O ex-presidente Jânio Quadros, por exemplo, dizia que bebia porque "se fosse sólido, comêlo- ia." O governo britânico, porém, decidiu estudar com mais profundidade as razões alegadas pelos bebedores contumazes para exagerar na dose. As autoridades de saúde inglesas acreditam que traçar perfis pode ser uma forma mais eficaz de ter acesso às pessoas que sofrem com o abuso do álcool.

Para entender o que move os exagerados, os especialistas estudaram o comportamento de homens que consomem pelo menos 50 unidades semanais e mulheres que bebem acima de 35 unidades, o que representa duas vezes o limite (por unidade entenda-se um copo de cerveja ou vinho ou, opcionalmente, meio copo de destilados). O resultado desse trabalho foi o lançamento de uma campanha que descreve nove perfis de indivíduos que bebem demais e os seus principais motivos para ultrapassar as medidas. Estão contemplados na lista o deprimido, o estressado, o bêbado amigável e gente entediada, entre outros (leia quadro abaixo). A esperança das autoridades é que as pessoas se reconheçam nessas caracterizações e prestem mais atenção aos riscos sociais a que estão expostas quando se embebedam, como a participação em acidentes de carro, o surgimento de dores estomacais, a queda da produtividade ou perda do emprego e o isolamento.
O foco inicial da ação são cerca de quatro mil usuários de álcool que vivem na região nordeste da Inglaterra, onde a estratégia está sendo testada. Se der certo, a campanha será expandida para o resto do país. Na opinião do especialista Sérgio Duailibi, da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Universidade Federal de São Paulo, os perfis definidos pelos ingleses também podem ser válidos para o Brasil. "Mas atividades educativas como essa só funcionam para reduzir o consumo em um contexto no qual as pessoas tenham absoluta certeza de que vão sofrer as conseqüências por terem se excedido", afirma o pesquisador.
A preocupação dos ingleses em achar formas inéditas de controlar o consumo é louvável. O álcool é a droga mais consumida no mundo e seu uso problemático é diretamente responsável por 3,2% das mortes e 4% de todos os anos perdidos de vida útil ao redor do globo, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde. Na América Latina, o impacto é ainda maior – causa o desperdício de 16% de anos de vida útil. Vários países já possuem políticas muito bem estruturadas e abrangentes para o controle do álcool. Na própria Inglaterra, as iniciativas vão da restrição dos horários ou dias de venda à criação de impostos adicionais para bebidas alcoólicas.