Responsável pela maior bilheteria do cinema brasileiro neste ano, o comediante Leandro Hassum diz não sabero que é humor refinado e conta como decidiu fazer cirurgia bariátrica

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TRAJETÓRIA
Ele começou a carreira no teatro Tablado, no Rio, aos 16 anos

 

O humorista Leandro Hassum é o responsável pela maior bilheteria do cinema nacional neste ano. A comédia “Candidato Honesto”, lançada em outubro e protagonizada por ele, levou 2,6 milhões de pessoas para a frente da telona. Antes dela, o ator de 41 anos já havia arregimentado um público de 1,2 milhão para assistir ao filme “Vestido para Casar”, quinto colocado no ranking.

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"Sou fã do Selton Mello. Acho o filme ‘O Palhaço’ incrível. O que eu faço,
porém, é diferente e talvez eu não fosse assistir"

 

Sua mais nova investida – “Os Caras de Pau”, que estreia no dia de Natal em 800 salas do País – também deve alcançar números expressivos. Fora dos holofotes, o fluminense casado há 17 anos e pai de Pietra, 15, resolveu dar uma guinada na vida e se livrar do excesso de peso que o acompanha desde a infância. Há um mês ele se submeteu a uma cirurgia bariátrica e perdeu 17 quilos. Está com 133 e vai passar dois meses sabáticos nos Estado Unidos, onde também vai fazer cursos de cinema, direção e atuação. Se retornar de lá com 100 quilos, diz que vai rir à toa.

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"Comecei a pensar nisso (a cirurgia) bariátrica) no início do ano.
Acompanhei o caso do André Marques, que é muito meu amigo,
para ver se aprovaria a cirurgia e procurei o mesmo médico"

ISTOÉ

 Seus filmes são sucesso de público, mas as críticas não costumam ser generosas. O que acha disso?

 
Leandro Hassum

 A crítica não torce o nariz para mim, ela é nosso termômetro. O problema é que há críticas mentirosas. Em “Até Que a Sorte nos Separe 1”, um crítico disse que era constrangedor, em uma das cenas, o fato de eu estar forçando a graça, enquanto ninguém no cinema ria. Esse cara perdeu a credibilidade. Porque vejo várias sessões dos meus filmes. Vou a todas as pré-estreias e a cinemas, escondido, para ver a reação do público pagante. E aquela cena em que fui criticado era a que mais fazia o público rir. Ou seja, o crítico mentiu ou estava vendo o filme sozinho. Do mesmo jeito que tem diretor, ator, que faz filme para fazer o público pensar, eu faço cinema para o público só se divertir. Por que não só se divertir no cinema? Por que alguém não é bem-visto pelo fato de ir ao cinema só para dar risada? 

 
ISTOÉ

 O que espera da crítica?

 
Leandro Hassum

 Não sou unanimidade nem quero ser. Mas gostaria que a crítica fosse mais imparcial. Existe um filão da sociedade que tem um tremendo preconceito com a comédia nacional. Se for comédia popular então, é maior ainda. O Chaplin – não estou me comparando a ele, hein! – sofreu preconceito na comédia. Então, claro, tudo bem eu receber crítica. Mas já conversei com amigos críticos se não seria o caso de termos um crítico especializado em comédia popular, comercial, talvez. Porque a crítica coloca todo mundo no mesmo caldeirão. E aí me sinto injustiçado. Porque a gente leva muito público ao cinema, não é uma comédia tão artística, porque a gente faz filme popular, porque a classe C, D, E, ri pra caramba e isso incomoda…não sei dizer, sinceramente, o porquê. O cara pode me achar um merda, não achar a menor graça em mim, mas, quando a crítica mente, me chateia. É chato quando pessoas que nem o veem direito o rotulam. 

 
ISTOÉ

 Muita gente diz preferir humor inteligente, refinado…

 
Leandro Hassum

 Não sei o que é o humor inteligente, refinado. Faço humor para a pessoa rir. Faço um humor parecido com o refinado, mas que se chama engraçado (risos). Eu sou fã do (ator e diretor) Selton Mello. Acho o filme “O Palhaço” incrível. O que faço, porém, é diferente e talvez, como público, eu não fosse assistir. Mas não posso dizer que é ruim. Sei da minha qualidade, não é à toa que o público prestigia. Venho do teatro, que sobreviveu muito tempo do boca a boca. Se meus filmes lotam salas é porque o boca a boca é bom. Gostaria que quem me assistisse chegasse com a mente aberta. E que criticasse dizendo que pecamos na qualidade de imagem, no som, o elenco não estava bom, o texto era fraco… Agora, o cara falar que a sala estava vazia, ninguém ria de nada, quando os meus filmes estão batendo recorde de bilheteria, eu pergunto: onde ele foi vê-lo? 

 
ISTOÉ

 Atores de stand-up comedy têm conquistado espaço na tevê, como o Porta dos Fundos, que foi para a Fox. Como enxerga esse movimento ?

Leandro Hassum

 Bacana que a internet e canais  como Fox, HBO, Telecine estão abraçando essa turma. Mas, como ocorreu no teatro, só vai ficar quem é bom mesmo. Quando teve o estouro da boiada do stand-up, veio muita coisa ruim junto. O problema é que, com a ascensão dos humoristas, qualquer engraçadinho acha que faz stand-up. E muitos têm a ideia errada de que fazer stand-up é ser do contra. As histórias contadas são um tal de “sou contra isso, odeio gente que faz aquilo”. Tem uma galera sem talento para fazer esse humor crítico, mas que se mete a encarar e o público foge. 

 
ISTOÉ

 Mas há casas noturnas e tea-tros que abrem cada vez mais as portas para esse tipo de comediante.

 
Leandro Hassum

 Tem teatro que parece motel, tamanha a rotatividade. Pede-se que a apresentação de stand-up tenha no máximo uma hora de duração porque, na sequência, tem de entrar outro. Aí, vem um cara, de bermuda, camiseta rasgada, e cobram R$ 80. Me sinto ultrajado! Tem de entregar mais por esse preço. E outra coisa:  prefiro perder a piada do que o amigo. Não arrisco perder  um amigo por uma piada.

 
ISTOÉ

 Teve de recusar trabalhos para encarar a cirurgia bariátrica, há um mês?

 
Leandro Hassum

 Comuniquei muito cedo a Rede Globo sobre a minha decisão de operar e ela foi parceira. Abri mão de alguns shows de teatro para o mundo corporativo, de trabalhos como mestre de cerimônia e só. Decidi em junho, mas desde o início do ano comecei a pensar na ideia. O André Marques (ator que há um ano também passou por esse procedimento e eliminou quase 70 quilos) é muito meu amigo, temos o estilo de vida parecido, no sentido de dizer que nunca encararíamos uma operação dessas, que éramos felizes gordinhos  e coisas assim. Acompanhei o caso dele para ver se aprovaria a cirurgia e procurei o mesmo médico.

 
ISTOÉ

 Passou pela cirurgia pensando mais na estética ou na saúde?  

 
Leandro Hassum

 Eu não tenho vergonha do meu corpo. Nunca tive problema em ser gordo. Isso não me prejudicava em relação ao sexo. Me achava bonito gordo, olhava no espelho e gostava do que via. E quando atingia um limite de peso que me incomodava, fazia dieta e emagrecia. Mas aí não conseguia mais emagrecer. As dietas não eram mais eficazes, levantava da cama dolorido, ficava um trapo depois de um fim de semana de show, com dor na coluna e nos joelhos. Então, não ter domínio sobre o meu excesso de peso começou a me incomodar e fiquei preocupado com a saúde. Tenho pressão e colesterol normais. Mas gordo é uma bomba-relógio. Perdi meu pai, sedentário, fumante, obeso, há pouco tempo. Teve um infarto e tudo o que era periférico atrapalhou nesse momento. 

 
ISTOÉ

 Como lidou com esses dois fatos praticamente simultâneos?

 
Leandro Hassum

 Operei em 1º de novembro e meu pai faleceu seis dias depois. Deus permitiu que eu tivesse alta no dia 7, fosse ao enterro do meu pai e me despedisse dele. Meu pai infartou uma semana antes de eu operar e ficou no CTI por 15 dias. Infelizmente, minha primeira saída ao deixar o hospital, após a alta, foi ir ao cemitério para me despedir do meu pai. Até agora não consegui viver direito o luto da perda dele. Me preocupo em não chorar muito, pensar muito, porque fico com dor…enfim, receio com a minha saúde. Aí fico me contendo. Escrevi uma carta para o meu pai e postei no Facebook. Foi nesse momento que chorei. 

 
ISTOÉ

 Tem receio de voltar a engordar?

 
Leandro Hassum

 Não serei infeliz se isso ocorrer. Não entrarei em depressão. Só não vou querer atingir os 150 quilos que eu tinha. Estou 17 quilos mais magro. Quero experimentar ficar mais magro, cuidar da vaidade, vestir a roupa que sempre quis, praticar o esporte que não praticava para não me machucar por causa do meu peso. Se eu parar nos 100 quilos, estarei feliz. Não tenho pretensão de ser magro, mas de ser saudável. E não tenho o menor medo de perder a graça. Ser gordo é uma das minhas piadas. Há muitas outras!

 
ISTOÉ

 Na maior parte da vida lidou bem ou mal com o peso? 

 
Leandro Hassum

 Na adolescência foi difícil, porque adolescente é um ser cruel. Ser engraçado, então, era uma defesa. Foi aí que o meu humor nasceu. No colégio, sendo levado, bagunceiro, foi a forma de eu me destacar como o engraçado e não como o gordo. Logicamente que me incomodava. Eu não era bom no colégio porque preferia ficar contando piada nos intervalos de aula, era o cara que organizava as festas, as palhaçadas. Até que a psicóloga de lá sugeriu à minha mãe que eu fosse levado para o teatro, dizendo que eu queria aparecer, ser engraçado na hora errada. Ela me colocou no teatro, de onde nunca mais saí.  

 
ISTOÉ

 Exerceu alguma outra profissão? 

 
Leandro Hassum

 Por um período, fiz teatro ao mesmo tempo que trabalhava como garçom. Também fui professor de inglês por quatro anos. Mas só servi para isso mesmo: o humor. Comecei aos 16 anos, no teatro Tablado. Hoje, eu consigo dizer não para trabalhos com mais facilidade. Mas, no começo, eu contava o dinheiro para sobreviver. Já passei dias comendo miojo no café, no almoço e no jantar. Já fiquei vestido de Papai Noel em shopping para poder ter dinheiro para comprar presente de Natal para a minha filha. Ganhava cerca de R$ 400 e tinha a minha esposa grávida em casa. Aí, assinei com a Globo para poder usar o plano de saúde da empresa para o parto da minha filha. Meu salário seria de R$ 700 para trabalhar com o Chico Anysio.

 
ISTOÉ

 Mulheres jogam charme para você?

 
Leandro Hassum

 Tem fã que passa dos limites e minha mulher, com muita elegância, coloca as coisas no eixo. Estava, certa vez, sem camisa no sambódromo durante o Carnaval e uma mulher se aproximou, meteu a mão nos meus peitos e me chamou de gostoso na frente da minha esposa, que, com educação, pediu por favor para que a moça parasse. Em outra situação, em uma festa, uma mulher se aproximou e falou algo no meu ouvido. Minha esposa disse: “Por que você está contando segredo só para ele? Conta para mim também, já que sou a mulher dele”. Eu, graças a Deus, mesmo gordinho, nunca tive problema para ter mulher ao lado. Sempre fui namorador. Nesse sentido, realizei tudo o que queria. E me casei na hora certa. Estragar algo bonito que vivo no casamento por um rompante não vale a pena. É muita coisa em jogo para estragar por causa de meia hora de prazer.