A 8ª Semana BarraShopping de Estilo que ocorreu entre os dias 15 e 18, mostrou mais uma vez que o bairrismo está na alma do Rio de Janeiro. Estilistas, modelos, artistas e convidados do evento exaltaram o balneário em estampas, referências e exposições. Na passarela, a maior homenagem ao Rio veio de uma das mais famosas grifes de moda praia locais. Ao som de Jorge Benjor – fã assumido da cidade –, a Salinas mostrou biquínis e maiôs estampados com paisagens como o Corcovado. A intenção era apresentar um “verão com a cara do Rio”, conforme explicou a estilista Jaqueline De Biase.

A valorização da cultura carioca apareceu também no desfile da Coopa-Roca (Cooperativa de artesãs da Rocinha). A moda da grife nasceu no morro e invadiu as vitrines com sua criatividade em fuxicos, frufrus, crochês e patchwork. Em parceria com o estilista Carlos Miele, da grife paulista M.Officer, a marca fez peças inspiradas na cidade, mas são vendidas em lojas de Nova York, Londres, Paris e Hong Kong. Mara Mac, da Mariazinha, apostou nas cores que classifica de fruitées – laranja, menta e lavanda – e apresentou o jeans como novidade. “Diferenciado, por botões e arrebites em cristal colorido ou aplicações de chamois”, explica ela.

A Tessuti, sob os cuidados da estilista Clara Vasconcelos, investiu num visual mais comportado. Quem assistiu ao desfile da grife teve o privilégio de ver os modelitos no corpo escultural de Shirley Mallmann. Primeiro rosto brasileiro a brilhar no cenário fashion internacional, Shirley afirma não se ligar em moda. “Não fico pensando no que vou usar. Vale o que fica bonito e confortável”, disse. A top vacilou apenas ao responder se acredita que a moda possa ser um “instrumento de transformação social”, frase-tema do evento: “Nossa, é a primeira vez que não sei responder a uma pergunta!”

ONGs e movimentos sociais em evento fashion também estão em alta. A exemplo do que aconteceu no SP Fashion Week, o BarraShopping deu visibilidade a grifes “do bem”. Na semana carioca os destaques foram as organizações Amazon Life, Pela Vidda e Viva Rio. A primeira trabalha com material produzido por índios e seringueiros da Floresta Amazônica. A segunda apresentou peças feitas com camisinhas e está numa intensa campanha de combate à Aids. A terceira, que trabalha com 400 comunidades fluminenses, lançou roupas esportivas com estampas de favelas. O estilista Paulo D’Escragnolle, da Guess?, homenageou a praticidade dos cariocas: “Aqui ninguém gosta de roupa no armário. Fiz uma coleção usável, o que está nas passarelas vai para as vitrines”, diz.

A grande estrela do desfile da Guess? foi Daniella Sarahyba, 17 anos. Menor de idade, ela obteve autorização do Juizado da Infância e da Adolescência para desfilar depois de provar que estudava. Algumas de suas colegas, entretanto, não puderam pisar na passarela, já que Siro Darlan, juiz da 1ª Vara da Infância e da Juventude proibiu menores que abandonaram a escola de desfilar. A medida provocou indignação, mas depois virou marketing e modelos da grife Coopa-Roca desfilaram com carteiras de identidades.

Olhos puxados – Outro destaque do desfile foi a inglesa Devon Aoki, 18 anos. Namorada do cantor Lenny Kravitz, a garota foi a atração internacional do Barrashopping. Olhos puxados, cabelos claros, ela mede apenas 1,69 m, “baixinha” para os parâmetros fashion. Devon desfilou descalça para a marca Lenny porque torceu o tornozelo há uma semana enquanto passeava com o cachorro do namorado. Fã de música brasileira e da moda praia, fez questão de cumprimentar Paula Lavigne na platéia, já que a sua mãe, uma designer de jóias, conhece Caetano Veloso.

Quem não teve a sorte de entrar nas tendas para ver os desfiles pôde se contentar com o show do lado de fora. A exposição Porque o Rio… reuniu nove designers de jóias para homenagear a cidade. Os corredores foram uma atração à parte, com o desfile de artistas. Regina Casé, Miguel Falabella (festejadíssimo), Maurício Mattar, Luciano Huck, Maria Paula, Betty Faria, Christiane Torloni, Debora Secco, são apenas alguns de uma extensa lista de estrelas que, como de costume, só conseguem brilhar juntas num único palco: o Rio de Janeiro. Com o perdão do bairrismo.