Diamante, ametista, ouro, prata, palha, caroço de açaí. A essa mistura de materiais nobres com prosaicos produtos da terra junte-se uma grande dose de misticismo popular e inventividade. Muitas horas de burilamento, batidinhas e encaixes depois, e pronto. Tem-se peças exclusivas, esculpidas com muita personalidade. Todas podem ser apreciadas em vitrines assinadas por profissionais que começam a chamar a atenção aqui e lá fora. Estamos falando de designers de jóias como a carioca Tereza Xavier, premiada por sua habilidade. É da sua coleção o colar de ouro com cristais que enfeitou o pescoço da cantora Sandy, quando estrelou a novela Estrela-guia, da Globo – a peça e outras jóias usadas na história (no valor total de R$ 12 mil) foram doadas para leilão em prol do Retiro dos Artistas, no Rio. Já a gaúcha Simone Cunha, que vive em Brasília, levou a sofisticação bruta de suas jóias esculpidas para a renomada Barneys, de Nova York. Ela acabou de fechar um contrato de exclusividade com a rede, que também tem lojas em Los Angeles, Chicago e Tóquio.

Além do sucesso, a história desses profissionais traz em comum a valorização de elementos brasileiros. Tereza, por exemplo, expôs na semana passada no Bar rashoppping, no Rio, peças alusivas à cidade maravilhosa. E é exatamente esse o fator a conferir distinção a esses designers. Foi homenageando um brasileiro – Darci Ribeiro – com palha da tribo waiapó, do Pará, ouro e diamantes que, em 1997, Teresa arrebatou o Prêmio Diamond Awards, da De Beers, considerado o Oscar das jóias. Em 1998, repetiu o feito com um versátil fio de palha da tribo waimiri atroari de Roraima misturado a ouro e diamantes que serve como pulseira, colar ou cinto.

Lua e sol – Este ano, Tereza optou por seu lado esotérico e concebeu a coleção Luz, que além da peça de Sandy, apresenta outras jóias cheias de astros espelhados. “A lua e o sol são as luminárias do Universo e, segundo a filosofia taoísta, o espelho tem o poder de dispersar o mal. Juntei os elementos para que as peças funcionem também como talismãs”, explica a designer. Para os apaixonados, ela fez anéis que lembram sinetes reais. Com eles, pode-se “marcar” o parceiro com a inscrição aiamotaracaratu (que em tupi-guarani quer dizer amar muito) em tinta dourada ou prateada. Suas peças variam de R$ 99 (pingente beijo, em ouro amarelo) a R$ 2.600 (colar com fios de ouro e brilhante).
A paixão pela arte popular brasileira levou Tereza a abrir uma galeria de arte no hotel Copacabana Palace, no Rio. A galeria conta com um acervo de peças do barroco mineiro e do artesanato indígena – tão presente em suas jóias.

Esculturas – Já Simone Cunha Coste, que se formou em economia em Brasília, mas se realizou na conceituada Persons School of Design de Nova York, costuma dizer que não faz jóias e sim esculturas, nas quais aplica suportes de ouro 22 quilates. Ela produz braceletes ou pingentes, mas sua paixão são os anéis, imensos, vedetes da exposição os 7 pecados capitais, realizada na Galeria Francine em São Paulo no mês passado. Uma opção que também tem seu lado esotérico. Foi diante de um grande anel de jade datado de 2800 a.C., exposto numa exposição do Egito Antigo no Metropolitan Museum, em Nova York, que ela se decidiu pelo desenho de jóias. Resolveu furar as pedras brutas vindas de diferentes garimpos do País e extrair delas peças em tons de azul, verde, marrom, amarelo quase transparente, algumas com nuances de rosa e violeta. “Desenvolvi uma técnica distinta de lapidar. Faço peças geométricas em ônix, água-marinha, ametista, crisopázio e quartzos”, explica. Suas peças variam de R$ 1.900 a R$ 2.500.

Não é à toa que o veterano Ricardo Aguiar Azevedo, desenhista de jóias de Belo Horizonte (MG), afirma que no quesito “criação” os brasileiros não ficam atrás de ninguém. “Foi-se o tempo em que o Brasil produzia a matéria-prima e os outros lapidavam as peças”, sentencia o designer que ganhou no ano passado o concurso nacional de jóias do Instituto Brasileiro de Gemas Minerais. A peça premiada foi um anel de ônix circundado por pedras removíveis – que permite várias combinações –, vendido por R$ 6 mil. Bem ao gosto de clientes refinados. E endinheirados.