Tomar banho três vezes por semana pode ser uma solução para o racionamento de energia. Mas há alternativas menos radicais e mais criativas. Gerador abdominal, geladeira com porta transparente e dispositivo que desliga a resistência do chuveiro após um tempo determinado são algumas das invenções que podem ajudar no combate ao apagão. Até objetos obsoletos como o ferro a carvão voltam a fazer sucesso. Em Brasília, poucos pequenos empresários têm faturado tanto quanto Roberto Cabral, dono do Hospital das Panelas. Ele desenvolveu um ferro a carvão em alumínio e jura vender mais de 50 unidades por dia. “Pesa menos de um quilo e esquenta tanto quanto os ferros elétricos”, explica o inventor. Difícil é ter de soprar a brasa para fazer o fogo pegar e ainda enfrentar a fumaça.

O ferro a gás comercializado pela Confec, uma empresa de Sorocaba, interior de São Paulo, é uma alternativa. O único problema é carregar o botijão. Outro artigo que virou um luxo é o aspirador elétrico para piscinas. Ligá-lo em tempos de racionamento é considerado quase um crime. Para substituí-lo, o catarinense Valmor Reinaldo criou um aparelho manual capaz de limpar tanto o fundo quanto a superfície. Ele funciona como as peneiras tradicionais, com pontos a seu favor. “É maior, mais bonito e possui duas bóias que não o deixam afundar”, explica.

Engenhocas como essas são desenvolvidas a todo momento por “professores pardais” brasileiros, mas nunca estiveram tão na moda. Nada melhor do que uma bela crise para dar um empurrãozinho em seus empreendimentos. “Quem tem crianças em casa sabe como é difícil tirá-las do banho. Um chuveiro elétrico é responsável em média por 22% do consumo de uma casa”, explica Carlos Assis. Agente de viagem, ele entrou para a galeria de inventores tupiniquins ao montar um dispositivo que desliga a resistência do chuveiro após um tempo predeterminado e premia o usuário que excede o limite com uma ducha de água fria. “O banho pode demorar seis, oito, dez ou 12 minutos. Um alarme apita pouco antes do término”, conta. Ele garante que é impossível burlar o sistema. Mesmo desligando e ligando o chuveiro novamente, a água continuará gelada por quatro minutos. Sua engenhoca está exposta no Museu Contemporâneo das Invenções, mantido pela Associação Nacional dos Inventores, em São Paulo. No museu também se encontra o gerador abdominal criado pelo técnico em eletrônica Avelino Rodrigues, capaz de acender uma lanterna sem a ajuda de pilhas ou eletricidade. “O funcionamento é simples. Ao respirar, mexemos o abdome. O cinto colocado ao redor da barriga transforma esse movimento em energia”, explica. Rodrigues acredita que, quando for industrializado, o aparelho – com preço estimado em R$ 100 – será capaz de carregar a bateria de um celular. Por enquanto, é preciso que uma pessoa permaneça um dia inteiro com o aparelho para conversar dez minutos ao telefone. Como a quantidade de energia armazenada é proporcional à intensidade de movimento, pode-se imaginar que uma saída econômica será levar o aparelho para a academia de ginástica.

Enquanto Avelino Rodrigues, Carlos Assis e Valmor Reinaldo esperam ver seus inventos nas prateleiras das lojas, o presidente da Associação Nacional de Inventores, Carlos Mazzei, se entusiasma com os 60 novos cadastrados a cada mês na entidade. “O brasileiro é muito criativo. Pena que uma patente demore cinco anos para sair”, lamenta. Mazzei afirma que, toda semana, é procurado por um punhado de empresários interessados em diversificar sua linha de produtos, tirando muitos projetos rapidamente da prancheta. Mais apressado, o engenheiro mecânico Paulo Roberto de Souza resolveu vender sua engenhoca sob encomenda enquanto espera fechar contrato com alguma indústria. Em Salto, interior paulista, ele desenvolveu uma porta transparente de geladeira que, garante, reduz o consumo do aparelho convencional em 30%. “É possível acender a luz e localizar o produto desejado com a porta fechada. A geladeira fica menos tempo aberta”, afirma. Adaptar a porta de um aparelho comum custa R$ 250, mas Souza sonha com uma linha de geladeiras que já saia pronta da fábrica.

Outras invenções, algumas que tiveram a patente expedida há dez anos, tornaram-se as meninas-dos-olhos dos preocupados em cumprir a meta de redução de 20% no consumo de energia elétrica. É o caso do dimmer de luz ambiente produzido pela Duralux, de Petrópolis, Rio de Janeiro. Trata-se de um interruptor deslizante que gradua a luminosidade e proporciona uma economia de até 60%. “Além disso, aumenta a vida útil das lâmpadas e livra os moradores do desconforto das lâmpadas de mercúrio”, garante o dono da empresa, Joel Franco Sacilotti. Outro símbolo da era do apagão é o ventilador de teto produzido pela Maynard. Ele gasta menos energia do que uma lâmpada de 60 watts. “Dentre os ventiladores, o nosso produz o mesmo vento com metade do consumo”, garante Farid Murad, diretor da empresa. Em tempos de apagão compulsório, toda idéia luminosa é bem-vinda.