Um secretário estadual que destrói fitas com depoimentos, um promotor que se cala, um delegado que não interroga acusados. Começaram assim as investigações sobre o envolvimento do empresário Marcos Santos, cunhado do governador Garibaldi Alves Filho, com esquemas de superfaturamento de obras públicas e tráfico de influência no Rio Grande do Norte. Santos, que não foi encontrado e estaria desaparecido, foi denunciado há duas semanas por Luiz Henrique Gusson, um comerciante preso, acusado de assassinato. Segundo advogados, Santos está internado em Natal desde o último domingo, com grave quadro de hipoglicemia e stress. Mas na lista de pacientes do Instituto de Traumatologia e Ortopedia do Rio Grande do Norte (Itorn) não está o nome do empresário.

Em seu depoimento ao Ministério Público, no dia 25 de maio, Luiz Henrique acusou Santos de chefiar um esquema de criação de seis empresas para ganhar concorrências fraudulentas do Estado. Entre elas estaria a Eccocil, do ex-ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra. Gusson afirma ter participado de reuniões com outros empresários, entre eles Silvio Bezerra, filho do ex-ministro, para fraudar licitações. Durante uma delas, Santos teria ligado para Bezerra, então ministro, e dito: “Está tudo certo, já temos a empresa. Pode liberar a verba que não vai faltar dinheiro para a campanha.”

A advogada Verônica de Fátima Coelho, mulher de Gusson, confirmou as denúncias na imprensa. Em entrevista ao jornal Diário de Natal, na quinta-feira 19, Verônica, 27 anos, que também está presa como cúmplice do marido no crime, disse que ele tem os dias contados: “Já me considero uma viúva. Ele sabe demais e não irá se calar.” Ela acusou “uma pessoa” da Secretaria de Segurança Pública de tentar aliciá-la para depor contra o marido. Verônica, no entanto, preferiu não dar nomes. O secretário de Segurança, Josemar Tavares, destruiu a fita que continha o depoimento de Gusson à Polícia: “Era uma prova sem consistência”, justificou. Para o delegado Henrique Maia Cavalcanti, responsável pelo inquérito, ainda não “será necessário ouvir os empreiteiros acusados”. No Ministério Público ninguém dá informações ou comenta o caso. Os filhos de Marcos Santos, Geraldo Neto e Sérgio Santos, são muito ligados ao governador Garibaldi Alves Filho. Geraldo é vereador pelo PMDB e foi chefe de gabinete de Garibaldi, cargo atualmente ocupado pelo irmão Sérgio. O governo do Rio Grande do Norte divulgou nota oficial na qual diz que as acusações são “irresponsáveis”.