Em reunião com os líderes dos partidos aliados no Senado, no começo da noite da quarta-feira 21, o presidente Fernando Henrique Cardoso manifestou receio diante de uma mistura explosiva: o agravamento da crise argentina, a recessão econômica nos Estados Unidos, a criação da CPI da Corrupção e os efeitos disso tudo na economia brasileira. “Os nossos indicadores econômicos são bons. Mesmo com o quadro internacional desfavorável, temos fôlego para superar isso. Não podemos botar tudo a perder para dar um palanque às oposições. CPI é golpe”, disparou FHC em meio à contagem nome a nome dos senadores que podem subscrever o pedido de criação da comissão. Chegaram a um resultado preocupante: faltariam três ou quatro senadores para os partidários da investigação alcançarem as 27 assinaturas necessárias para a formação da CPI. Diante dessa contabilidade apertada, o presidente resolveu não correr riscos e entrar pessoalmente na operação para abafar a criação da comissão. Com telefonemas a parlamentares, tentou reverter apoios à investigação e também pediu ajuda a empresários. Além de barrar a CPI, a ordem agora é votar uma agenda positiva capaz de mostrar a investidores externos que a crise é superável e o Congresso saiu da paralisia. Para engajar o empresariado, a base governista tentará aprovar a toque de caixa a Lei das Sociedades Anônimas e uma minirreforma tributária com o propósito de reduzir os custos de produção.

Nessa batalha contra a CPI, Fernando Henrique ficou irritado com a atitude do presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), que resolveu assinar o pedido para criar a comissão. “Um aliado não pode fazer isso”, censurou FHC em conversa com tucanos e líderes do PMDB. “O Jader acabou entrando no jogo do ACM”, endossou o líder do governo no Congresso, deputado Arthur Virgílio Netto (PSDB-AM). A própria direção do PMDB não gostou do gesto de Jader. Na quinta-feira 22, durante almoço na casa do líder do PMDB na Câmara, deputado Geddel Vieira Lima (BA), os peemedebistas concluíram que, ao assinar a CPI, Jader cometeu um erro político. Nessa reunião, a cúpula do partido avaliou também que terá de se movimentar em um campo minado, com adversários inclusive dentro do Palácio do Planalto. O comando do PMDB está convencido de que o ministro-chefe da Casa Civil, Pedro Parente, e o secretário-geral da Presidência, Aloysio Nunes Ferreira, sempre que podem trabalham contra o partido. Jader reconheceu: “Politicamente, o caminho adequado seria outro. Minha atitude foi pessoal. Não vou trabalhar pela CPI, mas não posso ficar sujeito à chantagem de Antônio Carlos.”