02/12/2014 - 14:56
Oito em cada dez mulheres com câncer de mama se valem de técnicas como a acupuntura, a ioga e a meditação para aliviar os efeitos colaterais das medicações, da radioterapia e da quimioterapia. Em muitos casos, porém, a utilização desses métodos acontece de forma aleatória, sem bases mais consistentes sobre sua real eficácia. Agora, a entidade Sociedade para a Oncologia Integrativa lançou um conjunto de orientações sobre o que realmente funciona. O guia foi publicado pela revista “Journal of the National Cancer Institute Monographs”. “O objetivo é proporcionar aos pacientes e seus prestadores de serviços um resumo das provas sobre essas terapias para que tomem decisões informadas”, disse à ISTOÉ a epidemiologista Heather Greenlee, da Universidade de Colúmbia (EUA), responsável pelo trabalho.
ACESSO
Regina (acima) se beneficiou com a ioga. Luciana lamenta a
falta de oferta das técnicas em mais hospitais brasileiros
Para chegar às evidências, os especialistas executaram a maior revisão de estudos científicos já feita sobre o tema. Primeiramente, selecionaram 4,9 mil pesquisas que versavam sobre cerca de 80 terapias. Após uma triagem para avaliar a qualidade dos estudos, sobraram 203 pesquisas. O passo seguinte foi atribuir letras para indicar o grau de certeza oferecido pelos estudos quanto à eficácia das terapias. As que receberam classificação “A” são as que mostraram um alto nível de certeza de que o benefício à paciente é substancial (leia mais no quadro). A partir da letra D, estão excluídas do cardápio de opções. O gel de aloe vera, por exemplo, obteve grau D. Portanto, não é recomendado para tratar a irritação da pele causada pela radioterapia.
O médico Gilberto Lopes, criador do centro de oncologia do Hospital do Coração, em São Paulo, espera que as diretrizes ajudem a disseminar o conhecimento sobre esses recursos. “Os profissionais da saúde precisam ser formados para ampliar a utilização dessas práticas de modo correto”, diz. Lopes costuma indicar alguns dos métodos complementares às suas pacientes. Se nos EUA ou no Canadá essas terapias estão inseridas em hospitais como o Memorial Sloan Kettereting Center ou o MD Anderson, o mesmo não ocorre no Brasil. “De modo geral, aqui elas estão disponíveis apenas em alguns centros de excelência”, diz a psicóloga Luciana Holtz, presidente do Instituto Oncoguia. Outro empecilho é que os planos de saúde não pagam por esse tipo de serviço. “Mas, diante de evidências concretas de que funcionam, será necessário incluí-las nos procedimentos pagos”, diz Luciana.
Em São Paulo, somente hospitais de primeira linha da rede privada, como o Sírio Libanês e o Albert Einstein, criaram serviços de medicina complementar. O Instituto do Câncer de São Paulo (Icesp), da rede pública, também tem uma área específica. “São terapias que não tratam o tumor, mas melhoram as condições emocionais e psicológicas da paciente”, diz o oncologista Paulo Hoff, que está à frente do atendimento oncológico do Sírio Libanês e do Icesp. A psico-oncologista Regina Liberato provou a diferença que a medicina complementar pode fazer. Depois de tratar pacientes com tumor de mama, ela se descobriu portadora da doença. Incorporou no dia a dia com mais rigor a prática da ioga e da meditação. “Associar as terapias integrativas ao modelo tradicional do tratamento permite um olhar abrangente para um organismo que precisa ser atendido de muitas formas. Faz muito bem”, diz.
Foto: Kelsen Fernandes, Rafael Hupsel – Ag. Istoé