Um fotógrafo chamado Vik Muniz, com obras em acervos de museus como o Metropolitan, o Whitney e o MoMA, de Nova York, e o Reina Sofia, de Madri, está com uma restrospectiva de seu trabalho no Brasil. Artista com esta bola toda, este nome… de onde seria? Surpresa para muitos: quase desconhecido no País, nasceu paulistano, há 39 anos, e mora nos Estados Unidos desde os 22. Seu sucesso em terras gringas têm motivo. Muniz segue um ritual pouco convencional para um fotógrafo. Em alguns casos, busca inspiração em pinturas consagradas, faz esculturas de chocolate, depois as fotografa. Em outros, à imagem clicada acrescenta gel, algodão, açúcar, cinza, pó ou macarrão e, em seguida, faz novo registro com sua câmera. Parece estranho. E ele concorda que é. Quem duvidar de sua criatividade, ou quiser conferi-la ao vivo, pode ir a sua exposição com 180 imagens, em cartaz no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro. A mostra deverá chegar ao MAM paulista em 28 de junho e depois ao MAM de Salvador e do Recife.

Terra natal – Filho único de pai garçom e mãe telefonista, Vik Muniz tem o trabalho bem avaliado em várias línguas. Agora está eufórico com a perspectiva de ser visto na terra natal. A oportunidade anterior foi na Bienal Internacional de São Paulo, em 1998. “Nestas horas é que vejo melhor o Brasil dentro do que faço”, avalia Muniz. No Exterior, sua obra ganhou documentário da cineasta americana Anne-Marie Russel, que está lançando Worst possible ilusion (A pior ilusão possível). Um pouco do que já produziu está na exposição The things themselves, do Whitney Museum de Nova York. Nesta retrospectiva do MAM, ele reúne fotos da década de 80 até os dias de hoje. O curador da exposição, Charles Steinback, também diretor da Tang Teaching Museum/Art Gallery, de Nova York, não economiza elogios: “As fotografias de Vik são uma combinação de técnica artística, rigor intelectual e curiosidade juvenil.”

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… da série Aftermath

Enquanto morou em São Paulo, Vik Muniz não era nada, lembra o próprio. Estava envolvido com teatro, desenho, totalmente perdido. “Mas perdido sempre estou. É bom isso, porque abre mais espaço para o fazer”, afirma. As sólidas estruturas que o cercavam – família, amigos –, segundo ele, impediam que se “reinventasse de outra forma”. Mudança mesmo começou a acontecer nos Estados Unidos, para onde viajou com um vocabulário restrito a yes e no. Primeiro produziu esculturas. Para divulgá-las e documentá-las, passou a fotografar. O envolvimento com a arte das imagens mudou o rumo de tudo, a ponto de conceber uma obra apenas para ser fotografada.

Açúcar – Muniz começou a usar materiais perecíveis e comestíveis. Tais fotos têm de ser feitas rapidamente porque os alimentos começam a se deformar, a apodrecer, a desmanchar. Ao fotografar obras de chocolate, por exemplo, ele só tem uma hora. “Senão, seca e perde o brilho. As de açúcar ou pó são ainda mais frágeis. Qualquer ventinho pode estragar”, conta o artista. E é possível comê-las? “Não, porque uso material de péssima qualidade, o chocolate mais barato”, conta. A exceção para a degustação aconteceu num jantar em Paris, no qual vários artistas assinavam os pratos. Muniz ficou com a sobremesa. No momento apropriado, garçons colocaram na mesa apenas pratos e talheres. Ele, então, começou a comê-los. Eram feitos de açúcar, com gosto muito ruim, mas todos adoraram.

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… e Binóculos, da série Lixo e poesia: garoto de rua e restos de Carnaval

Para criar suas obras extravagantes, ele apela para outro tipo de arte, inventando ferramentas inusitadas como o compasso com cotonete, a pinça com lixa ou os minúsculos aspiradores de pó feitos de canudinhos. Agora, ele está treinando desenho com microscópio. Depois, tudo será fotografado por câmeras gigantes. Entre as imagens expostas no MAM estão as da série Crianças de açúcar – tendo como foco a garotada que trabalhava em plantações de cana no Caribe – e as da série Aftermath, trazendo fotos de meninos de rua de São Paulo, retrabalhadas com lixo do Carnaval. Todas as vezes que ele retrata problemas sociais, parte da renda das vendas é doada para instituições de menores. Não é pouco dinheiro. A foto mais barata de Vik Muniz custa US$ 5 mil. Nos Estados Unidos, ele já alcançou US$ 75 mil por uma fotografia e US$ 150 mil por um conjunto de 14 painéis, arrematados num leilão em Paris.

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