Qualquer desavisado que ver a capa do segundo disco solo do titã Paulo Miklos, Vou ser feliz e já volto, vai achar que ele é mais um a ter se convertido ao onipresente batuque eletrônico. Desfilando a silhueta magra pela manhã nova-iorquina, com uma jaqueta dourada, cabelos recém-descoloridos e exagerados óculos escuros, Miklos parece um clubber saído de uma noitada tecno. Mas basta ouvir as 11 faixas do CD para se ter certeza de que o paulistano continua fiel ao vocabulário roqueiro que fez a fama dos Titãs. A bordo de um repertório de rocks enérgicos e baladas pesadas, o multiinstrumentista e vocalista realizou um bom trabalho.

Com um gostoso balanço incentivado pelas intervenções do sax barítono de Ed Cortês, Por querer fala de armadilhas amorosas. O que você me diz? vai na mesma linha, com a diferença de soar como um Bob Dylan dos primeiros anos. Em O milagre do ladrão, pérola do repertório de Chitãozinho & Xororó, o cantor coloca sua voz a serviço de uma canção sertanejo-pop transformada num curtido bluegrass. Não pense, porém, que Vou ser feliz e já volto é um disco cabeça dinossauro – só para lembrar o título de um dos melhores álbuns da carreira dos Titãs e do rock nacional. Mas tem seus momentos inspirados. Diferentemente do rock clássico, o disco veste uma roupa contemporânea. Às vezes remete ao barulho melodioso de bandas como a finada Smashing Pumpkins, o que não é pouco. E, finalmente, para justificar o modelito clubber da capa, Paulo Miklos transformou uma composição de quase 20 anos atrás, Todo o tempo, num belíssimo trip hop, aquele ritmo eletrônico melancólico e viajante que faz qualquer notívago dormir em poucos minutos.