O melhor hospital de Brasília já não é mais a ponte aérea. A célebre máxima do ex-governador de Minas Gerais Magalhães Pinto, dita na ocasião da morte do senador Petrônio Portela, ficou ainda mais forte depois da morte do presidente eleito Tancredo Neves em 1985. Passados 16 anos, ninguém mais ousa repetir a piada. Além de ter o melhor sistema de saúde pública do País, como afirma o ministro da Saúde, José Serra, Brasília vem se destacando em programas específicos, criando verdadeiras ilhas de excelência. É líder nacional na cura do câncer infantil, recordista em transplantes de rins e córneas, tem um dos melhores índices de assistência ao pré-natal e prevenção do câncer na mulher, a maior cobertura vacinal do País e o maior banco de leite materno do mundo. “Pode ser que os brasilienses não saibam ou não acreditem, mas Brasília tem o melhor sistema de saúde do Brasil na média”, disse o ministro Serra em solenidade no Hospital de Base. Não é à toa que a cidade se transformou proporcionalmente no maior receptor de pacientes vindos de fora. Só no ano passado, dos 4,9 milhões de atendimentos médicos realizados no DF, pelo menos 40% vieram de outros Estados.

A maior pressão vem do chamado entorno do Distrito Federal. Só de Goiás, Brasília recebe em média 23 mil pacientes por mês. Mas a procura ultrapassa em muito as regiões de fronteira. Diariamente chegam à capital, em ambulâncias, ônibus ou mesmo em aviões, pessoas de todos os Estados do Brasil e até do Paraguai, Venezuela e Bolívia, em busca de atendimento médico. Esses pacientes são responsáveis por nada menos do que 70% da lotação nos serviços de emergência dos hospitais locais. Não são poucos os prefeitos que preferem comprar ambulâncias e mandar seus doentes para Brasília em vez de investir na saúde pública de seus municípios.

“Isso é um problema. Na medida em que melhoramos os serviços, as pessoas vêm para cá”, diz o secretário de Saúde, Jofran Frejat. É o caso da goiana Liliane Siqueira, 16 anos, que há dois meses está em Brasília tratando de um câncer no abdome. Assim que diagnosticou a doença, o médico da sua cidade (Cristalina – a 100 quilômetros da capital) deu a receita: “Vá para Brasília.” Internada no Hospital de Apoio, referência nacional na cura do câncer infantil e adolescente, Liliane está conseguindo controlar a doença com sessões semanais de quimioterapia. Em Brasília 70% das crianças com leucemia alcançam a cura. No Canadá e nos EUA a média é de 72% a 74%.