A Europa vivia entre os escombros da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) quando Christian Dior lançou seu nome para o mundo. Destruído, o velho continente atravessava um duro período de racionamento e lutava para recuperar seu antigo prestígio. Até que o estilista abriu sua maison e criou uma coleção que transformou os conceitos da moda, ganhando o epíteto de new look. Seus modelos de amplas saias com bainhas milimetricamente medidas, ombros arredondados ressaltando o busto e cinturas bem marcadas, como de vespa, trouxeram o luxo e a elegância para o cenário de recessão do pósguerra e fizeram com que até as americanas desejassem ardentemente vestirse no novo estilo determinado por Dior e adotado depois por outros costureiros, como Hubert de Givenchy. Algumas dessas peças que despertaram sonhos estão hoje em exposição no Victoria & Albert Museum, em Londres. Distribuídos em três halls, entre documentos, acessórios e fotografias, estão mais de 100 vestidos desenhados por mestres franceses e ingleses. Parte deles é de Dior. Não é à toa que a mostra – que vai até janeiro – se chama The golden age of couture (ou a era dourada da costura). Era assim que o estilista se referia ao momento em que reinou. A exposição compreende criações entre 1947 e 1957, o ano da morte de Dior.

Foram dois anos para organizar a mostra, recuperando peças e remodelando manequins para reviver o brilhantismo da maison que rompeu a austeridade dos anos de guerra e reinventou a feminilidade. Durante o conflito, houve racionamento até para os tecidos, o que perdurou por um bom período mesmo com o fim da guerra. Muitas mulheres ficaram masculinizadas, pois tinham de usar sobras de roupas dos maridos. Foi nesse quadro que surgiu Dior. O estilista havia trabalhado com dois costureiros quando se associou ao empresário têxtil Marcel Boussac. O estilista pôde dar vazão à criatividade. Ele aumentou o comprimento das saias, criou pregas e franzidos e forrou suas criações para que as roupas ficassem armadas.

No lançamento da coleção, em fevereiro, fazia um frio colossal em Paris. Nesse clima, jornalistas de moda se deslocavam para ver a estréia da casa Dior. Antes de o desfile iniciar, a editora da revista Harper’s Bazaar, Carmel Snow, declarou que para compensar o dia a apresentação teria de ser muito boa. Ao final, ela se rendeu. E chamou a coleção de new look. Nem todos, claro, aprovaram a novidade. Houve quem considerasse um escândalo "desperdiçar" tanto pano para se fazer um vestido. O barulho, porém, não foi suficiente. "Mesmo nos anos mais difíceis, a mulher tinha vontade de se vestir bem. Havia guerra, mas havia vaidade", diz o estilista Marco Sabino, autor do livro Dicionário da moda.

O interesse de celebridades sedimentou o sucesso do novo visual. Meses após a estréia de Dior, atrizes do porte de Rita Hayworth e Vivien Leigh fizeram suas encomendas, atraindo a atenção de mais consumidoras. Com as criações dos demais estilistas o conceito se expandiu para além do continente. "Dior foi o primeiro a capturar o desejo da Europa pós-guerra por uma moda mais feminina e glamourosa. E ele também esteve entre os primeiros a perceber o potencial do mercado internacional", reforça Eleri Lynn, curadora-assistente da exposição. Além disso, nesse período as fotografias começaram a suplantar as ilustrações nas publicações de moda. A luz natural e a escolha de locações excepcionais modernizaram as revistas, ajudando a popularizar a alta-costura.


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