Ministério Público do Rio Grande do Norte começou a investigar um assassinato e terminou esbarrando em uma denúncia que aponta políticos e empreiteiros como integrantes de uma quadrilha especializada em roubar o dinheiro público no Estado. O comerciante Luiz Henrique Gusson Coelho, preso e acusado de assassinato, acusou o construtor Marcos Santos, cunhado do governador Garibaldi Alves Filho, de chefiar um grupo que cria empresas-fantasma para fraudar licitações e depois superfaturar obras. Luiz Henrique envolve até o ex-governador Garibaldi Alves, atual presidente da Junta Comercial e pai do governador, que teria sido conivente com a quadrilha, ao permitir o registro das empresas criadas para concorrer em licitações fraudulentas.

Num detalhado depoimento prestado em 25 de maio e divulgado na semana passada, Luiz Henrique conta que participou de reuniões com outros empresários, entre eles Silvio Bezerra, filho do senador Fernando Bezerra (PMDB-RN), para fraudar licitações. Contou também que ajudou partidários do governador a afastar do cargo o prefeito de Rio do Fogo, inimigo político de Garibaldi Alves Filho. No lugar do prefeito foi nomeado o interventor Nei Dias, casado com uma irmã de Marcos Santos. Luiz Henrique revelou que, orientado por Santos, abriu a Construmax Construções e Manutenção Ltda., empresa registrada em nome de Luiz Henrique Maia Coelho, uma identidade falsa do comerciante para participar de concorrências fraudulentas. Essa empresa iria construir casas populares destinada a policiais militares e financiadas pela Caixa Econômica Federal em convênio com o governo do Estado. O dinheiro, segundo o denunciante, seria conseguido por Marcos Santos junto ao governo. “O Marcos sempre quis deixar bem claro que tinha poder no Estado e exercia influência sobre o governador Garibaldi”, contou Luiz Henrique. Ele lembrou que Santos sempre dizia: “O Sapinho (apelido do governador) não manda muito. Não rouba, mas deixa roubar.”

O comerciante, que só aparece em público de capuz e está preso junto com sua mulher, a advogada Verônica Coelho, e o filho de um ano e meio, disse ter resolvido contar tudo porque está sendo ameaçado de morte. Ele é acusado de ter assassinado no ano passado Pedro Alexandre da Silva, um vendedor de carros usados. Luiz Henrique nega o crime e diz o prenderam para poupar os verdadeiros assassinos e encobrir outras falcatruas envolvendo Marcos Santos e integrantes do governo estadual. “Esta história vai bater em Brasília”, ameaçou Luiz Henrique, garantindo ter provas de tudo. O governador Garibaldi Alves Filho negou as denúncias e disse que nenhuma empresa apontada por Luiz Henrique prestou serviço ao governo. “Isto não tem fundamento, nem prova ou qualquer documento”, rebateu Alves Filho, que disse não conhecer Luiz Henrique. Ele também negou que o cunhado, casado com a irmã Maria Auxiliadora, tenha influência no governo. “Isso é uma questão pessoal entre os dois empresários e não envolve o governo”, afirmou.