Uma grande frustração tomou conta do mercado financeiro e dos círculos empresariais na sexta-feira 21. Até as 16h30, era dado como certo o anúncio dos principais integrantes da equipe que vai conduzir a economia brasileira no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Durante a semana, o governo vazou nomes que seriam os titulares desses cargos e, até o meio da tarde da sexta-feira, tudo parecia pronto para a apresentação dos escolhidos. Segundo especulações sopradas de dentro do próprio Palácio do Planalto, o ministro da Fazenda seria o presidente do Bradesco Asset Management, Joaquim Levy. Para o Ministério da Fazenda teria sido indicado o ex-secretário-executivo da pasta Nelson Barbosa. O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, manteria-se no cargo e o senador Armando Monteiro assumiria o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

abre.jpg

O cerimonial da Presidência até já havia preparado o parlatório do setor Leste do Planalto para a confirmação oficial dos nomes. No meio da tarde, no entanto, o Palácio do Planalto avisou que o anúncio seria adiado para o início da semana. Para se ter uma ideia do impacto do vaivém da presidente, a expectativa de nomeação do quarteto havia provocado grande movimentação no mercado financeiro, com queda acentuada do dólar em relação ao real e uma alta expressiva da Bovespa.

A desistência de divulgação dos nomes da equipe econômica reforçou uma característica negativa cada vez mais evidente na presidente da República: a hesitação. A escolha dos titulares da área era esperada para logo depois da reeleição da presidente, há três semanas, o que permitiria a Dilma participar da reunião dos países do G-20 na Austrália, nos dias 15 e 16 de novembro, já com o titular da Fazenda definido. Mas isso não aconteceu. Depois de regressar a Brasília na segunda-feira 17, a presidente fracassou na primeira tentativa de preencher o cargo. Uma reunião de Dilma com o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Lázaro Brandão, parecia ter acertado a escolha do presidente do banco, Luiz Carlos Trabuco, mas surpreendentemente ele não aceitou. A negativa de Trabuco expôs publicamente a presidente da República e mostrou mais uma vez a fragilidade da articulação política do governo. O nome de Joaquim Levy surgiu, então, como a opção mais palatável a Dilma e ao mercado financeiro, apesar da resistência da esquerda do PT, que sempre o considerou ortodoxo demais, desde os tempos em que ocupou o cargo de secretário do Tesouro Nacional de Lula. 

01.jpg

A maneira claudicante de Dilma operar se revelou também em relação à definição dos demais nomes do primeiro escalão federal. Depois de rechaçar a redução do número de ministério, hoje formado por cerca de 40 pastas – um evidente exagero –, a presidente não desfez o nó da composição política de sua equipe. Presa ao loteamento de cargos exigidos pelos partidos aliados, ela não consegue fazer deslanchar a reforma ministerial. Enquanto os novos titulares não são escolhidos, as especulações apontam alternativas que certamente não vão resolver os graves problemas do País. Um exemplo é a possibilidade do governador da Bahia, Jaques Wagner, para a presidência da Petrobras, no lugar da desgastada Graça Foster. A grave crise vivida pela estatal em função das denúncias de corrupção investigadas pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal, certamente não terá solução sob o comando de um político. O rateio das diretorias entre os partidos nos 12 anos de governo petista está na raiz dos desvios bilionários da Petrobras.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Se confirmado nesta semana, como tudo indica que acontecerá, segundo fontes do governo, o engenheiro naval Joaquim Levy, 53 anos, chega ao comando do Ministério da Fazenda com a chancela do mercado financeiro para promover os ajustes necessários na economia para que o País, enfim, retome o crescimento. Levy ganhou notoriedade em Brasília no primeiro governo Lula, quando, subordinado ao então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, ocupou o cargo de secretário do Tesouro Nacional. Por ser remanescente da equipe do antecessor, o tucano Fernando Henrique Cardoso, Levy se tornou alvo de setores do PT insatisfeitos com a condução da economia na gestão ortodoxa de Palocci no Ministério da Fazenda. A economista e histórica petista Maria da Conceição Tavares costuma se referir a Levy como “o papalvo de Palocci” e “filho do FMI”. Nos tempos de FHC, ele foi secretário-adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda e economista-chefe do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Depois que saiu do ministério, em 2006, ele passou pelo Banco Interamericano do Desenvolvimento (BID) e ocupou o cargo de secretário de Fazenda do Estado do Rio de Janeiro no governo de Sérgio Cabral. Desde 2013, é presidente da Bradesco Asset Management.

02.jpg

Já Nelson Barbosa, cotado para o Planejamento, apesar de ter deixado a secretaria executiva do Ministério da Fazenda em 2013 em meio a um suposto atrito com Guido Mantega, é um dos colaboradores mais atuantes do programa econômico de Dilma Rousseff. Os petistas lhe rendem elogios por ele ter tido papel importante no governo Lula durante a preparação das políticas que ajudaram o Brasil a atravessar os primeiros anos da crise mundial de 2008 e 2009. Na época, ele era secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Depois, ajudou na formatação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do programa Minha Casa, Minha Vida, quando ganhou a confiança da presidente. “São dois grandes nomes. Joaquim Levy já deu provas de que é competente para promover o ajuste das contas públicas. E Nelson Barbosa reúne sensibilidade social, com o intuito de inserir uma parcela da população num outro patamar de vida, com indução do crescimento econômico”, afirma Alexandre Sampaio, presidente da Federação Nacional  de Hospedagem e Alimentação.

Dilma também tem na mais alta conta o provável terceiro nome que, ao lado de Levy e Barbosa, irá comandar a economia no segundo mandato. Trata-se do atual presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Sua permanência no posto, porém, é vista como “mais do mesmo” pelo mercado por representar um BC dócil ao Planalto. Funcionário de carreira do banco, o gaúcho Tombini tem graduação em Economia pela Universidade de Brasília (UnB) e é Ph.D. pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos. Entre 2001 e 2005, Tombini foi assessor do Fundo Monetário Internacional (FMI). No final de 2010, a então presidente eleita Dilma Rousseff o escolheu para suceder Henrique Meirelles na presidência do BC. Antes de chegar ao topo, ele ocupou vários cargos de direção na instituição. A principal característica dele nestes quatro anos foi a aquiescência com as diretrizes de Dilma para a economia.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias